Em foco – Vereza! Você é carioca. Como era a cidade do Rio de Janeiro da sua infância e adolescência e a que vivemos nos dias de hoje?
Carlos Vereza – Não sou saudosista, mas o Rio de Janeiro ainda possuía uma certa civilidade. Talvez porque não existisse internet, nem as destrutivas redes sociais. As pessoas se comunicavam, digamos.
Em foco – Quando você começou a se interessar em ser ator? A sua família lhe incentivou?
Carlos Vereza – Não creio em uma teoria que “explique” nossos caminhos ou vocações. Mas sei que um livro autobiográfico de Chaplin muito me impressionou.
Em foco – Qual é a importância da Rede Globo de Televisão para a sua carreira como ator?
Carlos Vereza – À época em que a Globo quase exercia um substituto do bom teatro popular, quando talentosos autores escreviam novelas, sem dúvida, pelos bons “personagens” que interpretei, deu-me alguma notoriedade. Algumas. Apenas.
Em foco – Você atuou em quase trinta novelas na TV Globo. Quais foram aquelas que mais te marcaram? Quais foram as de maior sucesso?
Carlos Vereza – Selva de Pedra; Direito de amar; O cravo e a rosa; e o Rei do Gado.

Em foco – Você trabalhou com Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, que o levou para o Centro Popular de Cultura (CPC), formado por um grupo de artistas e intelectuais de esquerda ligado à União Nacional de Estudantes (UNE). Comente sobre a sua experiencia no CPC.
Carlos Vereza – Tentar fazer arte popular em vários segmentos, como teatro de rua, artes plásticas, poesia, arquitetura, cinema de baixo orçamento, mas com temas do cotidiano brasileiro. Uma utopia.
Em foco – No cinema, você teve uma atuação expressiva em Memórias do Cárcere, filme de 1984, quando fez o papel de Graciliano Ramos, ganhando vários prêmios e reconhecimento. Comente sobre essa experiencia. Como foi interpretar o escritor?
Carlos Vereza – Antes de uma abordagem política, percebi em Graciliano Ramos, um ser existencialista, diria, sartreano. Assim o interpretei. Sobre os prêmios, como você perguntou, ganhei os mais importantes, tanto nacionais como internacionais. Destacaria, o Pavão de Prata, na Índia, um espanhol, no festival de Hueva, melhor ator no festival de Cuba, outro na Rússia e mais um em EUA. No Brasil, ganhei o Molière, pelo mesmo filme. Depois fiquei uns dez anos sem ser chamado para filmar. Como diria Tom Jobim, fazer sucesso no Brasil é proibido.
Em foco – No momento atual, você está atuando na peça teatral Lotte Zweig – A Mulher Silenciada. Como surgiu o projeto?
Carlos Vereza – A absoluta certeza de que o casal fora assassinado. Tive a ótima intuição de ter a Hana Kolodny interpretando a Lotte Zweig. Está impecável.

Em foco – Apresente um balanço da sua carreira de ator.
Carlos Vereza – Sempre busquei a dignidade artística e profissional: utopia.
Em foco – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma mensagem para os seus seguidores.
Carlos Vereza – O futuro é uma abstração pontuada por sonhos, quase sempre, não realizados. Sobre mensagens, não me sinto com autoridade para tamanha responsabilidade. Mas, talvez, inspirado por Sêneca, diria: dirijam-se ao aeroporto mais próximo. E, boa viagem!
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação