Em foco – O que representa um correspondente estrangeiro?
Edmar Figueiredo – Eu costumo falar em palestras ou entrevistas que os correspondentes estrangeiros são os olhos e os ouvidos do Brasil para o mundo. Ninguém chega a ser correspondente estrangeiro, ainda mais num país continental e com tantas idiossincrasias como o Brasil, se não for um profissional experiente, competente, às vezes já ter sido até correspondente em outro país ou continente. Mas, o mais importante é que , na correria diária do jornalismo, todos aprendem a amar o Brasil e o Rio de Janeiro em particular.
Em foco – Como se dá a atuação dos mesmos em nosso Estado?
Edmar Figueiredo – Os correspondentes estrangeiros cobrem todo o Brasil. Eles viajam para onde a noticia está. Muitas vezes, em casos de Breaking-news, viajam na correria, sem tempo de arrumar uma mala. Então, a atuação deles é em todo o país. Claro, como a grande maioria deles mora no Rio de Janeiro, uma espécie de espelho do Brasil, notícias do estado que tenham uma repercussão internacional sempre serão destaque na imprensa mundial.
Em foco – Quais são os principais projetos de sua entidade em prol do Rio?
Edmar Figueiredo – A ACIE existe desde 1962. Nossa entidade completa 62 anos em setembro deste ano. Sempre com o mesmo objetivo: congregar os correspondentes estrangeiros sediados no Brasil, apresentar sugestões de pautas que tenham interesse internacional e zelar, na medida do possível, para que todos tenham liberdade de imprensa para trabalhar e poder mandar suas matérias para o exterior. Nunca foi competência da ACIE ter projetos em prol do Rio. É claro que, por estarmos sediados desde a nossa criação na cidade do Rio de Janeiro, temos o máximo interesse em mandar uma imagem positiva da cidade, como também do país. Infelizmente, nem sempre isso é possível e, como jornalistas e correspondentes estrangeiros, temos que cobrir todo tipo de assunto.
Em foco – Como vc decidiu ser correspondente estrangeiro?
Edmar Figueiredo – Decidi ser jornalista aos 5 anos de idade, segundo minha mãe. Sempre fui precoce e lia as antigas publicações como Revista Manchete e Jornal do Brasil que chegavam com uma semana de atraso no Pantanal de Mato Grosso do Sul, onde nasci. Foi assim que descobri que queria ganhar o mundo e fazer aquilo que estava escrito ali, naquelas revistas e jornais. Infelizmente, as faculdades e universidades que tem o curso de Jornalismo ou Comunicação Social no Brasil, não tem uma cadeira específica sobre imprensa estrangeira ou jornalismo internacional e o aluno se forma muitas vezes só sabendo quais são as duas maiores agências internacionais de notícias do mundo: AP e Reuters. Então, tive que batalhar muito para morar a primeira vez em Londres para aprender inglês. Depois, para ganhar a Bolsa de Estudos Chevening, do Governo Britânico, para fazer um mestrado no Reino Unido. Fiz na Universidade do País de Gales (Wales University), que é o centro de estudos de jornalismo na Europa. Só aí, com esse diploma, ja morando em Londres pela segunda vez, consegui realizar meu sonho de ser correspondente estrangeiro e entrar na Agência Internacional de Notícias The Associated Press (AP). Depois de uns meses trabalhando em Londres, me mandaram para o Brasil para abrir e ser o chefe do escritório da parte de televisão da AP no Brasil, mandando matérias com script em inglês para TVs de 180 países do mundo. Trabalhei por 10 anos na AP e voltei novamente para morar em na Inglaterra, porque fui convidado para trabalhar na TV Globo de Londres. O resto é história. Corri o mundo, como queria o guri pantaneiro em sua infância. Desde 2015, como convidado do Governo Britânico no Brasil, sou Embaixador da Bolsa de Estudos Chevening, um trabalho voluntário que faço com muita honra.
Em foco – Quais os principais problemas que jornalistas estrangeiros encaram no Rio?
Edmar Figueiredo – São os problemas que eles encarariam em qualquer grande cidade do mundo: a preocupação com a violência, a burocracia para conseguir a documentação para se instalar ou credenciamento em eventos que tenham repercução internacional, o volume de trabalho. Mas, é importante frisar: os correspondentes estrangeiros amam o Rio e encaram tudo com otimismo e determinação profissional.

Em foco – Como os correspondentes estrangeiros atuam em grandes eventos ?
Edmar Figueiredo – Como qualquer jornalista brasileiro. Se credenciam e fazem suas cobertura. No caso deles, com foco na sua audiência ou leitores de seus países. Todos são experientes com eventos grandiosos como o Ano Novo de Copacabana e o Carnaval do Sambódromo, por exemplo. Além disso, depois da pandemia, com a volta dos grandes festivais e espetáculos internacionais, e agora com o G20 em novembro no Rio, todos terão muito trabalho pela frente. Já fizemos duas entrevistas coletivas online sobre o G20 e fechamos com a Secom da Presidência da República uma entrevista mensal com os principais atores da presidência do Brasil no G20. Assim, todos os nossos associados estarão informados de tudo que já está acontecendo e vai acontecer nesse evento que vai atrair a atenção de todo o planeta.
Em foco – Você foi nomeado Embaixador do Turismo do Rj .Como é sua relação pessoal com o RJ?
Edmar Figueiredo – Desembarquei sozinho na rodoviária do Rio com 15 anos de idade. Vim prestar o vestibular para a FACHA, já com 16 anos. Me formei com 20 anos. O Rio sempre foi a cidade da minha vida, um sonho de um menino pobre do Brasil profundo. A cidade sempre me acolheu, fiz amigos da vida inteira e, quando não estou morando ou trabalhando no exterior, é aqui que quero estar. Por isso me sinto muito honrado em ter recebido o título de Embaixador de Turismo do Rio. Uma honra e uma emoção muito grandes.
Em foco – Para a imprensa estrangeira ,o governo do presidente Lula trouxe algumas modificações?
Edmar Figueiredo – Nossa entidade é sem fins econômicos e apartidária. Não nos posicionamos, enquanto entidade, quanto ao governo A ou quanto ao governo B. Todos os nossos associados seguem suas vidas e fazem o seu trabalho, independentemente de quem tenha este ou aquele cargo municipal, estadual ou federal.
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação