Estreou no dia 09.09.2023 a peça de teatro A Origem do Mundo, no teatro Gláucio Gil. A seguir apresentações em terras paulistanas, a produção teatral desembarcou por aqui levantando questões e suscitando polêmicas. Ou seja, o texto é ótimo!
As atrizes Julia Tavares e Luiza Micheletti, também autoras do texto, falam de si. Falam de algo próprio das mulheres. Falam do aparelho sexual feminino: a vulva, a vagina. Esse é o tema da produção teatral.
Mas, falam de que forma? Questionando tabus e falsas informações que foram apresentadas ao longo da história. O texto recupera desde autores antigos, como Galeno, Aristóteles, passando pelos modernos e contemporâneos como Sigmund Freud, a NASA, Jean Paul Sartre, entre outros.
De acordo com o texto, com o surgimento da ciência moderna, no século XVII, as mulheres passaram a ser vistas como seres inferiores. A partir de então, os argumentos para convencer o mundo de que elas eram seres menos capazes passaram a ser científicos. As pessoas do gênero feminino não seriam capazes de nenhuma realização, uma vez que a ideia patriarcal de que ter útero as tornava menos capazes conseguiu ampla e irrestrita difusão e consolidação. Portanto, foram veiculadas informações difamatórias, caluniosas, sobre os assuntos diretamente relacionados às questões sexuais femininas.
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Elas falam também de forma jocosa, com humor, fazendo o público rir. O tema é tratado com responsabilidade, mas com pitadas doces de graça.
Então, elas trazem as referidas questões para a pauta do dia e introduzem o olhar feminino, destruindo equivocadas convicções que povoam imaginário. É a perspectivas das mulheres que se impõe, ganha força, e destrói os preconceitos que se impuseram ao longo do tempo.
A montagem é inspirada na HQ da artista gráfica e cientista política sueca Liv Syromquist intitulada A Origem do Mundo – Uma História Cultural da Vagina ou a Vulva vs. Patriarcado. A direção do espetáculo cabe à Maria Helena Chira.
O texto é apresentado de forma bastante didático e está estruturado da seguinte forma: I- Prólogo; II- A Vulva; III- O Orgasmo Feminino; IV- A Menstruação; V- Epílogo.
Cenários e figurinos ficaram por conta de Cássio de Brasil. São simples e adequados.
O cenário é bastante funcional, sendo constituído por um conjunto de livros espalhados pelo chão, que delimitam o palco, e algumas poltronas. E, há uma espécie de moldura contendo livros também, na parte superior e inferior, cortado por um fio com luz vermelha. Os livros são fontes de consulta das atrizes.
Os figurinos são simples, adequados e se prestam à finalidade das atrizes de narrar o espetáculo. Ambas vestem macacões, um preto, outro jeans, parecendo operárias, mulheres ativistas que labutam pelas questões femininas.
As atrizes estão bem entrosadas, dialogando de forma fácil, não confusas, apresentando uma linguagem de pronto entendimento. Portanto, atuação de gala, são super talentosas.
A peça é uma afirmação dos valores e do universo feminino. Não percam! Vale a pena!
Texto Crítico Redigido por Alex Gonçalves Varela.