O russo Liev Tolstói (1818-1910) ficou reconhecido internacionalmente pelas suas produções no campo literário. Foram diversos os livros publicados, dentre os quais ganham destaque Guerra e Paz; Anna Karenina; A Morte de Ivan Ilitch; Crônicas de Sebastapol, entre outras. Por meio das suas obras, ganhou reconhecimento e prestígio, e recebeu inúmeras premiações. Portanto, é a faceta de literato que mais foi explorada sobre o indivíduo.
Contudo, tem um lado de Tolstói que pouco conhecemos e sabemos. Ele foi casado com Sofia Tolstói, com a qual teve treze filhos. E a sua vida conjugal, seus preceitos, sua forma de pensar a família, sua intimidade, a forma de tratar a sua esposa, ainda é pouco conhecida do grande público. É esse lado privado do pensador russo que a peça em tela nos apresenta.
A atriz Rose Abdallah nos brinda com o excelente monólogo no qual interpreta Sofia Tolstói, como já informamos esposa de Tolstói durante quarenta e oito anos. Ela nos apresenta o personagem por meio do seu olhar, do ponto de vista feminino, do universo das mulheres, e deixa transparecer como doía ser mulher do literato. E nos mostra o homem machista, arrogante, dominador, que queria realizar intensa atividade sexual, era seguidor do “Domostroy” (ordem na casa), livro que apresentava um conjunto de regras religiosas e sociais, do século XVI, referentes a assuntos familiares da sociedade russa. A relação conjugal foi extremamente conflituosa, marcada pelo ímpeto dominador do marido.
Rose tem uma atuação impecável. Ela domina o palco e também o texto. É um primor de interpretação. Constrói a sua personagem Sofia, trazendo a tona a dureza do seu relacionamento, suas angústias, suas amarguras, mas de forma emocionada, poética, sem endurecer o texto.
O texto escrito por Ivan Jaf tem como base os diários redigidos por Liev e Sofia, que ambos produziram retratando a relação matrimonial. Essas são as “fontes” que permitiram ao autor apresentar esse outro lado do literato, trazendo a tona a relação tóxica, abusiva e patriarcal do homem Liev. E ao proceder dessa forma, ele resgata a voz de Sofia, e a deixa falar, deixa denunciar.
A direção do espetáculo é de Johayne Hildefonso, que não inventa nada, foca no texto, e na atuação e interpretação da atriz.
O figurino criado por Giovanni Targa é de um bom gosto, e extrema capacidade de reconstituir uma roupa de época, do século XIX. Rose entra em cena simples, com um vestido do dia a dia, e adentra o palco e se despe, ficando apenas com as “roupas íntimas”. A seguir vai montando a sua Sofia, aquela mulher que viveu no século XIX no ambito do Império russo, no contexto da monarquia dos Czares. Ela se maqueia, se penteia, e se veste com uma rapidez, tal é o detalhismo da indumentária. E, lá está ela, com aquele belo vestido em tom roxo e lilás. Ao final, ela tira algumas partes da vestimenta e enfeites do cabelo, e introduz uma indumentária de inverno, com gola de peles e um “ushanka”, típico chapéu de inverno, usado pelos russos das classes ricas e endinheiradas.
Quanto ao cenário, no palco visualiza-se apenas uma penteadeira clássica, revestida por estampas coloridas, coladas ao móvel. E foi acoplado um banco, com o mesmo revestimento.
Sofia é a voz contra a dominação, a opressão! A peça é um excelente espetáculo que vale a pena ser assistido!
Excelente! Imperdível!