A exibição apresenta perspectivas negras, indígenas, e LGBTQIAPN+ nas produções artísticas brasileiras e clama pela sua permanência por meio de um discurso radical anticolonial.
O olhar do homem branco ou europeu considerou os negros e índios como seres incapazes de produzirem conhecimento em qualquer área. E as produções presente na referida exposição apontam na contramão dessa consideração.
São produções originais, relevantes, belas, coloridas, potentes, ancestrais, críticas contra a postura arrogante e violenta do homem branco. São criações rebeldes, que desejam destruir radicalmente os olhares eurocêntricos e coloniais, e afirmar o valor e a capacidades dos não-brancos.
Por meio de fotografias, pinturas, colagens, vídeo performance, bordados, entre outras linguagens, artistas negros, indígenas, e LGBTQIA+, das mais variadas regiões do Brasil, expressam a sua arte por meio de uma forma ousada, rebelde, transgressora. Querem romper com o convencionalismo e o tradicionalismo, e afirmar seus valores, pertencimento, territorialidade, ancestralidades, as diversas formas de amar, sobretudo o amor entre mulheres, e entre homens, o casamento, a formação da família, a valorização do universo trans, entre outros. Ao proceder dessa forma, eles estão resistindo, e perpetuando a sua existência. São nuances da brasilidade, da nossa diversidade e pluralidade. São narrativas dissidentes, vozes que são sufocadas e reprimidas, e tem a oportunidade de se exprimir livremente.
Um mundo de “luzes” é aquele em que os cidadãos fazem uso livre e independente da sua razão pública. E as ditas minorias, que não verdade são maioria, aproveitaram a oportunidade e soltaram o verbo. Afinal, a arte é também um discurso!


No nosso ponto de vista entre os artistas transgressores gostaríamos de destacar as produções das artistas Rafa Bqueer e Uyra Sodoma, artistas do Estado do Pará, que apresentam pautas voltadas para as questões raciais, o universo LGBTQIAPN +, e a defesa da Amazônia. As duas artistas apresentam uma arte sediciosa, contestando os valores hegemônicos, dominantes, consolidados pelo preconceito estrutural e o patriarcado. Suas obras trazem mensagens de amor, carinho, afeto, e felicidade.
Rafa Bqueer, de Belém, PA, apresentou duas obras: Casaco Themonia – Uhura Bqueer; Trava Queen.
Por sua vez, Uyra Sodoma, artista de Corumbá, PA, nos apresenta Lama 23, a representação de uma possível “arvore pessoa”.
A artista Rafa Kennedy também merece destaque ao expor a sua travestilidade. Ela exibe duas fotografias em que deixa transparecer essa temática, o que não deixa de ser um ato de resistência frente ao discurso homofônico fortemente presente na sociedade brasileira. Rafaela Kennedy fotografa as famílias travestis, e o quotidiano das trans.
O amor entre mulheres, algo revolucionário e transgressor, também se fez presente na exposição.
Juh Almeida, artista de Catu, Bahia, nos apresenta o olhar sobre a mulher preta lésbica. O corpo das mulheres pretas juntas, que se amam e dão afeto. (fotografia analógica)
Na mesma linha estão os trabalhos de Mayara Ferrão, artista de Salvador, Bahia, que retratou as mulheres lésbicas se beijando (O Beijo 2 e 4). E a mesa de fotografias – àlbum de desesquecimentos – que retratam famílias, beijo, e o casamento. Fabulação. Reconstituição das memórias negras que foram apagadas. (Inteligência artificial)
A artista Ge Viana, natural de Santa Luzia, Maranhão, utilizando da técnica da colagem digital, representa o amor lésbico. Contar histórias que não foram narradas. Fabular.
As curadoras Luana Kayodé e Cintia Guedes tiveram o mérito de selecionar 16 (dezesseis) artistas cujos trabalhos são sensíveis e questionadores, e apresentam um olhar disruptivo e revolucionário, que deseja uma transformação profunda, radical, e vislumbra um futuro melhor, mais humano e afetuoso.

O público que visitar a exposição, além de contemplar produções artísticas de qualidade, também terá a satisfação de escutar uma obra sonora criada por Ventura Profana, que remete ao caminhar numa floresta, seus sons e ruídos.
A cenografia é original e criativa. Ela è composta por uma moita repleta de espadas de Ogum, ou de São Jorge, na cor terra Esse é o ponto inicial da exposição, composta também por fotografias digitais dos artistas.
Desse ponto inicial, diversas espadas de São Jorge espalham-se pelo espaço servindo de suporte para a exibição das produções dos artistas
A exposição é voltada para um público bem amplo, todos os segmentos sociais, sobretudo para pretos, indígenas, e LGBTQIAPN +, e para aqueles que admiram uma arte transgressora.
Indomináveis Presenças é uma exposição que exibe as produções de artistas negros, indígenas, e LGBTQIAPN + com o objetivo de criar novos imaginários coletivos que se voltam contra o discurso colonial; apresenta obras originais e inéditas; e uma cenografia adequada e criativa, e uma obra sonora agradável e melodiosa.
Excelente produção de artes plásticas!