A produção cênica é um monólogo cuja atriz principal é Christiana Guinle. O projeto é baseado na própria história de vida da atriz e foi escrito por ela em parceria com o autor e ator Pedro Henrique Lopes. Eles se encontraram por diversas vezes, e nesses encontros, ela foi narrando as suas memórias pessoais e afetivas sobre sua própria identidade sexual e de gênero, e Pedro foi costurando-as e amarrando-as para construir um enredo e produzir um bom texto sobre gênero.
Christiana se define como sendo uma pessoa de gênero fluido, ou seja, quando o indivíduo não se identifica com um único papel de gênero e transita entre eles. Ela se opõe a ideia do gênero como algo fixo, e sublinha que sempre pode haver alguma fluidez. E fluido também não se confunde com bissexualidade. Ademais, sublinha que as fronteiras entre masculino e feminino sao praticamente nulas.
A discussão sobre a temática do gênero é o tema central do espetáculo. Repensar o conceito, sua definição, os debates que envolvem o tema, entre outras questões, se fazem presentes na dramaturgia, que explora esse complexo assunto com uma linguagem simples e de fácil compreensão, alcançando todos os que integram a platéia. A peça reflete sobre padrões de comportamento masculinos e femininos impostos pela sociedade.
Christiana se declara Livre. E essa liberdade se reflete no estilo do seu estado de espírito. Por exemplo, afirma nao vestir roupa masculina ou feminina. Ela diz que se veste como quiser. Um dia pode se sentir homem, e no outro uma linda mulher. Como também pode ser nenhum dos dois. Os trajes que ela usa podem ir do tênis ao salto alto, do vestido à calça jeans. O estereótipo do terno e gravata, ela diz não existir. E, tudo isso, é expressado de forma autentica, leve, e com muita consciência. Ela se comunica bem com o público, sabe se expressar, passa com clareza o texto, e domina o palco.
A direção do espetáculo é de Ernesto Piccolo, que não inventa nada, foca no texto, e na atuação e interpretação da atriz.
Os figurinos são simples e adequados. Por sua vez, os cenários seguem a mesma linha, sendo constituído por uma cadeira, um cabideiro, e um telão no fundo do palco onde são exibidas imagens.
Nas imagens exibidas vale mencionar aquelas de personalidades relevantes no debate da fluidez de gênero, que marcaram e sacudiram suas respectivas épocas, como Thomas Baty, a atriz Rogéria, Kaká Di Polly, a modelo trans Roberta Close, e muitas outras.
A bonita iluminação pontual de Gabriel Prieto realça bem a atriz nos diversos momentos da peça.
Independente de sermos homem ou mulher, vamos, com a Christiana, fluir entre os vários gêneros existentes, nesse bom monólogo que discute questões contemporâneas relevantes.
Muito bom!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.