O espetáculo é um monólogo sobre a trajetória do ator Othon Bastos, que está completando noventa e um anos de idade e setenta de carreira.
A apresentação é de uma beleza extraordinária, pura poesia, uma aula de vida, de teatro, do que é ser ator. Do palco transborda sensibilidade e emoção. É uma obra de arte.
O texto não é biográfico propriamente dito, pois ele não narra toda a vida de Othon. O autor Flávio Marinho selecionou os principais aspectos da trajetória artística do ator, destacando os seus trabalhos no teatro e no cinema.
A dramaturgia de Flávio Marinho apresenta uma narrativa que percorre desde o nascimento de Othon em terras baianas; passando pela infância, quando realizou uma leitura pública na escola, declamando um poema de Olavo Bilac; o interesse pela odontologia, ao invés da carreira artística; a importância de Pascoal Carlos Magno para incentivar os estudos no campo da área cênica; a viagem a Inglaterra para incrementar os estudos teatrais; a participação no cinema novo; as atuações no teatro com o amigo Gianfrancesco Guarnieri, em especial a peça Um Grito Parado no Ar; as participações como “coadjuvante de luxo” em filmes como Central do Brasil. Toda essa trajetória é narrada pelo cruzamento com o contexto social, cultural, político e econômico da história do país.
Othon Bastos está impecável! A afirmação sintetiza a sua atuação.
A apresentação é um monólogo. Contudo, ao lado do ator está a atriz Juliana Medella, que representa a memória do ator, apresentando com comentários as falas de Othon. As apresentações da atriz são pontuais e adequadas.
A direção é de Flávio Marinho que deixou Othon Bastos livre no palco, para cantar, dançar, pular e narrar de forma espontânea, leve e solta pinceladas da sua trajetória enquanto ator, uma vida cheia de energia e paixão. Ele está feliz no palco!
A direção de arte é de Ronald Teixeira. Ele criou uma cenografia simples e adequada, apresentando três painéis de plotter com fotografias da carreira de Othon em seus respectivos papéis. No painel central aparece a imagem da fotografia de Othon no papel do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, direção de Glauber Rocha, no âmbito do chamado Cinema Novo.
O figurino utilizado pelo ator é adequado e elegante.
A iluminação de Paulo Cesar Medeiros é bonita, e adequada a cada uma das cenas.
Não Me Entrego, Não é uma produção cênica com um ator potente, uma direção de excelência, e uma dramaturgia que nos apresenta a belezura da trajetória de Othon Bastos.
EXCELENTE E IMPERDÍVEL produção cênica!