O monólogo protagonizado por Marcela Muniz é baseado no romance Água Fresca Para as Flores, da autora francesa Valerie Perrin.
A adaptação correta do texto é de Bruno Costa, que tem como personagem central a figura de Violette Toussaint, uma mulher simples, desconhecida, que atua como zeladora de um cemitério na França. É ela quem cuida dos túmulos e quem oferece o ombro e os ouvidos aos angustiados e entristecidos que vão bater na porta de sua casa vizinha ao cemitério.
A família de Violette é constituída pelos colegas coveiros, os agentes funerários, o padre, além dos gatos e cães. Nina é a sua fiel escudeira. Onde Violette vai, lá está a cadelinha.
Violette narra o dia-a-dia no cemitério. Os enterros, os visitantes, os funcionários, os espaços do ambiente, os epitáfios, os cenotáfios, os animais que por lá perambulam, as flores que regam, entre outros, possibilitando ao espectador conhecer detalhes do local.
Mas, ao mesmo tempo, ela cruza essa narrativa com a da sua vida íntima, pessoal, familiar. E então passamos a compreender a razão dela ter ido trabalhar naquele local, e levar uma vida solitária. Philippe Toussaint, seu esposo, a abandonou. Ela também é mãe. A sua vida não é fácil, sofreu diversas agruras, passou dificuldades na infância, maus tratos e vive rodeada pela morte. Ainda assim, passa doçura, delicadeza, companheirismo e amorosidade. A felicidade é algo que ela acredita poder alcançar. E jamais desistiu!
O texto é poético, literário, romântico, sensível, biográfico, fala sobre o amor, a vida e a morte. Este último tema, embora seja duro, é tratado de forma leve, suave e com humor.
Violette narra diversas histórias, não necessariamente em ordem cronológica, indo ao passado e retornando ao presente, num vai e vem, seja sobre a sua vida como funcionária do cemitério, relatando confidências do dia-a-dia, seja como esposa e mãe, uma mulher com família, mas foi ultrajada pelo esposo, revelando memórias pessoais. São narrativas que despertam as mais variadas emoções, de acordo com o fato apresentado.

Marcela Muniz interpreta Violette Toussaint. E procede de forma magnífica, prendendo a atenção dos espectadores com o manancial de histórias que ela narra. Ele interpreta corretamente, e emociona, exprime sentimentos. Apresenta um bom domínio do texto, passando com calma, tranquilidade, boa retórica e uma linguagem acessível, e do palco, se movimentando por ele o tempo todo. Portanto, uma atuação de qualidade.
A direção é de Bruno Costa que focou no texto, e deixou a atriz livre para realizar a interpretação da sua personagem.
Os figurinos criados por Ofélia Lott são bonitos, de bom gosto e adequados. O jaleco branco com flores bordadas é utilizado em todo o espetáculo, com vestimentas por baixo.
A cenografia criada por Teca Fichinski é simples e apresenta os elementos bem dispostos pelo palco. No centro do palco tem um pano com uma bacia na qual é despejada a areia que cai do teto. Remete a ideia da ampulheta, o tempo que passa. Nas laterais há dois bancos de cada lado. Há também outros elementos cenográficos, como o livro do cemitério.
A iluminação criada por Dani Sanchez apresenta um bonito desenho de luz, e realça a interpretação da personagem da atriz.
A trilha sonora criada por Thiago Muller e Tibi é correta e adequada.
Água Fresca Para Flores é um monólogo que apresenta uma dramaturgia sensível e poética ao trazer a tona a vida de Violette Toussaint, uma mulher simples, zeladora de um cemitério, que se torna a protagonista; uma atriz que tem uma atuaçao de qualidade, interpretando de forma correta e emocionando; e cenografia, figurinos e iluminação adequados e corretos.
Excelente produção cênica!