O texto é inspirado na obra “1984”, de George Orwell. A narrativa se passa num futuro distópico, a Oceania, território que engloba a região onde antes existia o Brasil, dominado por uma poderosa corporação miliciorreligiosa, a METABRAS, os guardiões da verdade, que estimula ideias como o empreendedorismo individual. Eles seguem as regras do Grande Pai de Todos, uma espécie de inteligência artificial que controla tudo. Buscam disseminar o ódio, temporalmente estão depois de tudo o que aconteceu, defendem o controle e a manipulação de tudo, o apagamento do passado e a defesa da verdade.
Em oposição à META BRAS há uma confraria rebelde, que tem Gaia como líder, que está preocupada com o vertiginoso desenvolvimento científico e tecnológico, uma “era de progresso”, que está levando o mundo a uma crise, a um abismo planetário. Eles pregam que um mundo alternativo é possível.
Portanto, META BRAS e Gaia estão em oposição, defendem propostas distintas.
O texto é denso, profundo, potente, crítico, apresenta um futuro distópico e violento, no qual a manipulação está à frente de todas as intenções. Serve como sinal de alerta para as inúmeras verdades disseminadas que nos são impostas por meio de “lavagens cerebrais”, ou “fakenews”, mas que, muitas das vezes, são informações inverídicas ou imaginarias. A importância de um pensamento crítico, reflexivo, deve continuar a existir e a ser fomentado como uma oposição a essa visão totalitária, controladora e violenta.
A direção de Felipe Vidal é correta, enquanto realizou as marcações certeiras e precisas, dando um dinamismo e uma movimentação intensa ao espetáculo, e direcionou a atuação correta dos atores. Ademais, fez uma adaptação correta da obra, ao recolocá-la no contexto atual, marcado intensamente pelos meios técnico-científicos e virtuais, a vigilância das câmeras e a inteligência artificial.
O elenco (Camila Guerra, Dani Neri, Flávio Café, Iano Fazio, Juliana Drummond, Mateus Ferrari, Rosanna Viegas e Victor Abrão) tem uma atuação qualitativa e notável. Os atores e atrizes interpretam com qualidade os seus personagens e também sensibilizam o público. Eles expressam sentimentos, ao deixar transparecer o discurso do ódio e do controle totalitário. Eles também cantam, realizam coreografias (“aula de ginástica”) e se movimentam intensamente pelo palco, ocupando os espaços. Também apresentam uma boa comunicação com o público. Portanto, eles têm uma atuação de qualidade.
Um dos melhores momentos da peça é a sessão de cura de Wilson, quando a Congregação busca lhe dar o equilíbrio mental, submetendo-o à sua verdade. Neste momento fica transparente o caráter totalitário e controlador da instituição.
Os figurinos são simples e adequados. O elenco usa, como traje básico, camisa polo e calça bege, uniforme da META BRAS. Eles são os funcionários. Em alguns momentos utilizam uma capa amarela por cima da roupa. Também utilizam camisas de times de futebol.
A cenografia criada por Luiz Felipe Ferreira (Calu Arte e Conteúdo) é criativa, arrojada e adequada. Apresenta um conjunto de mesas e cadeiras onde ficam os funcionários visualizando e controlando tudo por meio das suas câmaras e registrando todas as informações. Vivemos num mundo em que somos vigiados o tempo todo!
No fundo há uma tela de projeções cujas imagens exibidas complementam o texto, e um púlpito onde o elenco sobe para cantar ou interpretar. Ao lado há instrumentos de percussão.
A iluminação criada por Caio Teixeira apresenta um bonito desenho de luzes, variados tons, e realça a atuação dos atores.
A músicas auxiliam e complementam o texto, uma vez que apresentam letras com um conteúdo que o complementa.
2+2=5 apresenta um texto complexo, denso, e crítico em relação ao mundo contemporâneo marcado por inteligências artificiais e câmeras; um elenco que se apresenta com qualidade e dinamismo; e, cenografia, figurinos e iluminação adequados e corretos.
Excelente produção cênica!