Percorrer as salas do segundo andar do prédio do CCBB-Rio é se deparar com um passado recente da história do cone-sul. São situações pretéritas que deixam transparecer requintes de crueldade, e que nos fazem refletir se, de fato, é isso que realmente desejamos para a vida das nossas sociedades. As fotografias em preto e branco são registros históricos de um “mundo tão distante”. E, todas elas integram o conjunto da exposição Evandro Teixeira, Chile 1973.
O autor das imagens é o fotógrafo Evandro Teixeira (1935 – ). Baiano de nascimento, ele iniciou a trajetória no jornalismo em 1958 no jornal O Diário de Notícias, em Salvador (BA). A seguir, veio para a cidade do Rio de Janeiro, onde começou a atuar no jornal carioca Diário da Noite. Sua ida para o Jornal do Brasil se deu no ano de 1963, onde trabalhou com o fotógrafo Rogério Reis, então editor de fotografia do JB. Neste espaço atuou por 47 (quarenta e sete) anos. Em quase 70 (setenta) anos de atividade, ele registrou política, esporte, moda, carnaval, festas populares, fatos históricos, entre outros, nada escapou às suas lentes.
É dono ainda de uma produção autoral relevante, na qual se destaca o projeto sobre Canudos. Tem publicado diversas obras derivadas dos seus trabalhos.
Foi como fotógrafo do Jornal do Brasil que Evandro produziu inúmeras imagens sobre os acontecimentos no Chile e no Brasil.
A exposição apresenta-se dividida em duas salas.
A Primeira sala tem como título Ditadura e Fotojornalismo. Nela visualizam-se fotos de soldados do exército; manifestantes presos no Estádio Nacional de Santiago do Chile; manifestantes presos no estádio; imprensa internacional em visita ao estádio; prisioneiros políticos chegando ao estádio nacional; manifestantes presos; presos políticos encarcerados no estádio; imagens do Palácio de la Moneda bombardeado; a presença do exército no local; presença do exército em frente a embaixada americana; covas abertas para enterrar os assassinados pelo regime; fotos da Universidad Técnica del Estado bombardeada.
E há também fotos do quotidiano: freiras conversando com militares; carroceiros passando em frente ao Palácio de la Moneda; e populares observando o Palácio de la Moneda.
As fotos relacionadas ao golpe militar chileno são circundeadas por aquelas relativas ao golpe militar brasileiro de 1964 como a foto da tomada do forte de Copacabana durante o golpe militar; repressão dos militares aos estudantes; passeata dos cem mil; manifestações estudantis; o discurso de João Goulart, acompanhado por sua esposa, no comício da Central do Brasil; repressão policial aos estudantes; artistas protestando.
A segunda sala tem como título o fotógrafo e o poeta. Nela há fotos de Neruda na Clínica Santa Maria, onde morreu; o corpo do poeta; o velório; o caminho do cemitério; o cerco do exército; o enterro; a multidão acompanhando o corpo; o cortejo fúnebre de Pablo Neruda acompanhado por populares e jornalistas. Convém sublinhar o caráter exclusivo por parte desta fotos produzidas por Evandro. Somente ele teve acesso ao corpo do poeta na Clínica para fotografar, e, mesmo depois, onde foi velado.
Além das fotografias, visualizamos monitores que exibem trechos de filmes que documentam o período, bem como livros, fac-símiles e outros objetos, como máquinas fotográficas e crachás de imprensa.
O material produzido por Evandro são fotografias de resistência, de oposição, uma vez que sendo ele fotógrafo do JB, este era um veículo opositor ao regime em vigor.
As fotografias produzidas por Evandro Teixeira são fontes históricas que revelam a quebra do Estado de direito nos países do cone-sul e instalação de regimes de exceção que violaram os direitos fundamentais do homem e do cidadão. A repressão dos militares foi intensa, calando a oposição e liquidando-a. Esse “mundo tão distante” não pode mais se repetir!
Texto crítico produzido por Alex Gonçalves Varela.