O campo das mentalidades é recheado por um conjunto de consensos que são colocados como inquestionáveis, verdades absolutas. Estas têm passado por um intenso processo de questionamentos, uma vez que determinados valores até então aceitos como universalmente válidos estão caindo por terra. O monólogo estrelado por Emílio Orciollo Netto traz a tona esses ponderamentos, num texto de Antonio Prata, que apresenta uma linguagem simples, didática, de fácil compreensão, e reflexiva.
A sociedade brasileira é patriarcal e machista por excelência. Por muito tempo, as tarefas domésticas foram consideradas atributos exclusivamente femininos. Mas as paredes duras desse PATROPI masculino, branco e retrógado paulatinamente estão sendo derrubadas. Cada vez mais as mulheres ocupam um determinado posicionamento na sociedade, no mercado de trabalho, e na vida familiar. A preponderância dos valores do “homem-branco-macho-hetero-cis” estão sendo cutucadas. E, emerge a proposta de um “homem novo”, requalificado, que em condições de igualdade de gênero passa a incorporar novos valores.
Na pandemia, o casal Pedro e Gabriela produziram um bebê. Foram pais pela primeira vez. E, Pedro teve que assumir as tarefas do lar, enquanto Gabi aquelas ligadas ao lado da maternidade. Pedro incorporou esse “novo homem”. Trocou e lavou fraldas, fez papinha, foi ao supermercado, fez faxina no apartamento, ninou a criança, entre outras tarefas. Como tem que ser!
Os dois anos de pandemia desgastou a relação do casal. A monotonia da vida a dois, a reclusão daquele momento, provocou o desgaste da relação. E, Pedro começou a sentir vontade de ter um relacionamento sexual extra-conjugal. Ter uma amante não seria problema algum. Muito pelo contrário! Mas, ao mesmo tempo, refletiu se valia a pena trair a sua amada. É esse “novo homem” que desponta, que reflete, pondera, dialoga, age com cautela, companheiro.

O ator Emílio Orciollo está sozinho em cena, sendo dirigido por Vilma Melo e Victor Garcia Peralta. Ele tem uma atuação perfeita. Ele é irônico, jocoso, despojado, dando ao texto leveza e comicidade. A platéia dá boas gargalhadas!
O monólogo apresenta uma boa reflexão sobre companheirismo, fidelidade, sexualidade, relacionamento, amor, entre outros temas bastante contemporâneos na vida de um casal.
Os cenários de Mina Quental, e os figurinos de Mariana Barreto Orciollo se complementam. São de bom gosto e adequados. Pedro está imerso, com roupas do quotidiano, num apartamento em que no teto visualizamos varais repletos de fraldas de bebê. No centro vemos uma tábua de passar roupa. E, nas laterais, visualizamos engradados de plásticos que formam paredes, além de um sofá e cadeira. Criativo!
Não vale a pena assistir! (Risos)
Muito pelo contrário! Super indico! Ótimo Monólogo!
Texto crítico redigido por Alex Gonçalves Varela.