A peça é uma livre adaptação escrita por Marcus Montenegro e Regiana Antonini, do livro homônimo, de Marcus Montenegro e Arnaldo Bloch. A direção do espetáculo é de Beth Goulart.
“Ser Artista” tem como objetivo principal homenagear as grandes atrizes divas do teatro, do cinema e da televisão do nosso país. São laureadas tanto as já falecidas, uma forma de expressar a saudade das mesmas, bem como as que ainda estão vivas e permanecem atuando.
As atrizes homenageadas são: Bibi Ferreira, Marília Pera, Natália Thimberg, Tônia Carrero, Eva Wilma, Rosa Maria Murtinho, Zezé Mota, Camila Amado, Nicete Bruno. A razão da escolha residiu no fato de todas terem trabalhado no teatro com Montenegro, e o mesmo ter produzido algum dos espetáculos em que atuaram.
O texto tem início numa noite chuvosa no Rio de Janeiro. O agente teatral Marcus Montenegro, interpretado por Anderson Müller, está extasiado pela produção de uma peça em cartaz no teatro Copacabana Palace. Ele adentra o espaço, e assiste a peça. A seguir ao término, ele vai ao camarim, e encontra a atriz Nathália Timberg, interpretada por Leona Cavalli. Ela também interpretará as demais atrizes que são homenageadas no texto.
A partir desse momento inicial, tem início uma jornada emocionante em que se percorre a trajetória de vida do referido agente, desde sua infância no subúrbio até se tornar um produtor reconhecido.
A dramaturgia informa que, ao longo de sua carreira, Montenegro foi influenciado e inspirado por algumas das maiores divas do teatro brasileiro. Elas compartilham com o agente suas histórias, paixões e sabedoria, ensinando-o sobre disciplina, informação, formação e respeito pelo teatro. Cada uma das atrizes homenageadas, reiterando que são interpretadas por Leona Cavalli, tem reveladas suas vidas, desafios e triunfos no palco e na vida real.


Contudo, a história toma um rumo inesperado quando foi feito um convite para um almoço especial na casa de Nicette Bruno. O almoço nunca aconteceu, pois Nicette contraiu Covid e não conseguiu se curar, vindo a morrer.
Anderson Muller e Leona Cavalli formam uma dupla de atores de primeira linha. Eles estão entrosados e afinados. Dominam o texto e o palco. Realizam interpretações brilhantes, sobretudo Leona, quando interpreta partes de cenas dos espetáculos protagonizados pelas atrizes homenageadas. Ela arrebenta! Leona foi a escolha certa dos diretores da peça para interpretar todas as atrizes homenageadas.
Por sua vez, o ator Anderson Muller nos apresenta um Marcos Montenegro apaixonado pelo teatro, “embriagado” pela sedução das atrizes divas com suas performances. Mais do que profissionais, mulheres que exercem a profissão, elas se tornaram amigas e companheiras da vida do agente. E, Anderson está muito bem no papel.
Os dois atores passam o texto com emoção, poesia, deixam extravasar o coração. Pois o texto também fala deles, do ofício de ser artista. E ser artista tem que ter sensibilidade, deixar os sentimentos extravasar.
A direção é de Beth Goulart, que não inventa nada, foca no texto, e na atuação e interpretação dos atores. Ela deixa os dois a vontade no palco, para livremente realizar a sua performance.
A dramaturgia busca sublinhar o caráter exemplar das homenageadas. E, ao celebrá-las, escolhem esses nomes para que não caiam no esquecimento, para que as suas carreiras sirvam de inspiração para a transformação das futuras gerações.
O caráter exemplar da carreira das divas homenageadas é fruto da experiencia delas nos palcos. Suas atuações memoráveis, interpretações extraordinárias devem servir de ensinamento para as futuras gerações de artistas que estão por vir. E, homenageando-as, falando delas, o texto está mantendo-as vivas na nossa memória.
Portanto, a dramaturgia busca cumprir a função de preservar a memória dos feitos maravilhosos e admiráveis das grandes divas! Elas são nossas mestras! Ensinam! Suas ações pretéritas orientam e abrem um infinito horizonte de expectativas futuras!
A dramaturgia mostra as glórias e os sucessos, mas também sublinha que o processo para se tornar uma atriz reconhecida e prestigiada não é algo fácil. É uma caminhada longa, dura, que exige dedicação, compromisso, muito trabalho e empenho. As grandes oportunidades não caem do céu, e ao consegui-las devem ser agarradas com unhas e dentes.
Os figurinos criados por Karen Brustollini são adequados e servem ao espetáculo. Anderson interpreta Montenegro e veste uma calça vermelha, uma camisa preta básica, e por cima uma jaqueta.
Por sua vez, Leona veste diferentes figurinos, de acordo com a sua interpretação das distintas atrizes homenageadas nas respectivas peças teatrais em que atuaram.
O cenário é uma criação do experimentado e talentoso José Dias. Na parte frontal do palco, os atores tem um bom espaço livre para atuar, existindo apenas uma “penteadeira”.
Por sua vez, no centro do palco, há uma escadaria, e acima um “segundo” palco e uma espécie de “telão”. Nesse palco superior também realizam suas interpretações.
No “telão” são projetadas imagens das atrizes homenageadas, depoimentos emocionantes, e cenas de interpretações brilhantes.
A iluminação de Paulo César Medeiros é discreta, com a variação que acompanha a intensidade requerida por cada cena, ajustada ao espetáculo.
A peça é o verdadeiro resgate da profissão do ofício de ser artista. Ela celebra a força, coragem e espiritualidade das artistas que moldaram a história do teatro brasileiro.
Excelente produção cultural!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.