As apresentações foram realizadas sem acompanhamento de orquestra.
O ballet é estruturado em dois atos, e foi inspirado na suíte sinfônica “A Floresta do Amazonas”, escrita pelo renomado compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, em 1958. A primeira montagem foi realizada no ano de 1975, tendo Margot Fonteyn e David Wall como protagonistas. Outras duas montagens aconteceram em 2000 e 2023.
O espetáculo tem como enredo o romance entre um homem branco e uma deusa da floresta, que, por amor ao estrangeiro, transforma-se em mulher. A paixão entre eles é vista pelos indígenas como profana. Entretanto, é este amor que salvará a floresta da destruição causada por exploradores que invadem a aldeia em busca de plantas e aves raras.
Os protagonistas do espetáculo são a Deusa e o homem branco, que foram interpretados, respectivamente, por Gabriela Sisto, e por Fernando Mendonça.
Os dois formaram uma bela dupla, marcada pela juventude e vitalidade. Eles dançam com segurança, e deixando transparecer vigor físico e uma boa técnica. A esta alia-se a emoção, exalando um ar romântico, um clima de amor. É a paixão envolvente da Deusa e do homem branco que vai permitir manter a vida na floresta.
Ao redor da Deusa há as ninfas, que dançam com beleza e leveza.
Para além dos dois personagens principais, o ballet conta com diversos elementos das populações nativas da região amazônica. Há caciques, pajés, curumins, e nativos do gênero masculino e feminino, com suas danças. Joao da Matta no papel de Pajé, e Gabriel Diniz no de cacique, apresentam belas coreografias inspiradas nos rituais tribais.
Para além das populações nativas, há os outros seres da floresta, como borboletas, gaviões, pássaros, entre outros, todos interpretados por bailarinos bem ensaiados e executando de forma expressiva as bonitas coreografias.
Há também os intrusos, os invasores, aqueles que se fazem presente na floresta com os olhos de explorá-la, objetivando capturar pássaros, plantas e animais silvestres. No espetáculo aparecem com suas gaiolas e com roupas de caçadores, lembrando os do filme Indiana Jones.

Os figurinos criados por José Varona e Dalal Achcar são adequados ao mundo amazônico, de bom gosto, qualidade, e criativos. Destacamos os figurinos das diversas tribos nativos.
Por sua vez, a cenografia de Helio Eichbauer reconstitui a floresta amazônica, com suas árvores gigantes, aves pousadas nos galhos, e, ao fundo, o rio. Tem a marca da excelência do cenógrafo que faleceu há alguns anos atrás.
A iluminação criada por Felicio Mafra é bonita, e adequada as diversas cenas do espetáculo. No primeiro ato tende a ser mais clara, pois é dia na floresta. Já na segunda parte, a noite, cria-se um ambiente mais escuro.
A música criada por Villa-Lobos é brasileira e tem uma melodia poética e envolvente. Ouvimos o cantar dos rios e dos mares, das aves e dos pássaros. E, as letras traduzem o espírito tropical de nossas florestas e dos nossos céus.
O único ponto negativo da apresentação ficou por conta da ausência da orquestra.
Floresta Amazônica é um espetáculo valioso para além da dança, uma vez que a imensa área verde tem sido desmatada e ocupada ilegalmente pelos invasores, que destroem as populações nativas e a sua cultura, bem como colocam a baixo suas gigantescas árvores por razoes as mais diversas. Nesse mundo contemporâneo em que as questões ambientais estão na agenda do planeta, a montagem apresentada é de grande valia pars conhecermos mais sobre a floresta.
É um ballet com um repertório genuinamente brasileiro. A Floresta é brasileira, e todos os seres que a habitam são brasileiros, com suas culturas e tradições. Portanto, Floresta Amazônica é sinônimo de brasilidade.
Floresta Amazônica é um ballet bem produzido e coreografado, apresenta bailarinos jovens e promissores, figurinos e cenários bonitos e de bom gosto, e o requinte da direção de Dalal Achcar.
Ótima produção de ballet!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.