Fernando Botero, o icônico artista colombiano cujo nome reverbera ao longo da história da arte, faleceu aos 91 anos, deixando para trás um legado artístico imortal. A notícia de sua partida surgiu das manchetes colombianas em uma sexta-feira marcante, em 15 de setembro de 2023. O pintor e escultor, que viveu por décadas no norte da Itália, sucumbiu a uma batalha contra a pneumonia. A tristeza se aprofundou com a lembrança de que sua esposa, a igualmente talentosa artista Sophia Vari, havia falecido apenas cinco meses antes.
Conhecido como ‘pintor dos gordinhos’, Botero foi ilustrador e criou enormes esculturas de bronze. As obras inestimáveis de Botero, algumas delas alcançando valores estratosféricos em leilões, espalharam-se pelo mundo. Suas pinturas de formas voluptuosas e figuras imponentes, encontraram abrigo nos mais renomados museus. Enquanto suas esculturas de aço em tamanho monumental ornamentaram praças e ruas nas principais cidades globais.
O início da trajetória artística de Botero traz à tona a influência da religião e das touradas. Nascido em 19 de abril de 1932, na cidade colombiana de Medellín, ele não cresceu em um ambiente religioso, mas a religião estava intrinsecamente ligada à sociedade colombiana da época. Em um tempo em que Medellín abrigava mais igrejas com vitrais e altares do que museus, Botero encontrou sua primeira inspiração artística.
Surpreendentemente, hoje, o Museu de Antioquia, uma instituição de destaque em sua cidade natal, dedica grande parte de seu acervo ao mestre Botero, que desempenhou um papel vital em sua promoção.
A reviravolta artística de Botero ocorreu quando, aos 12 anos, ele se matriculou em uma escola de toureiros em Medellín, um período de sua vida que moldaria sua arte de maneira indelével. Aos 16 anos, ele fez sua primeira venda artística em um mercado local, sua estética já influenciada pelo mundo das touradas.
Contudo, a juventude irreverente de Botero encontrou desafios na educação formal, sendo expulso do Ensino Médio devido a um artigo sobre Picasso que ele escreveu e a seus desenhos, que foram considerados pornográficos pelos padres da escola. Curiosamente, suas ilustrações foram publicadas no jornal El Colombiano, o principal periódico da cidade, financiando seu prosseguimento no Ensino Médio e suas primeiras incursões na Europa e nos Estados Unidos.
Na década de 1950, Botero mudou-se para Bogotá, onde conviveu com artistas vanguardistas da época, imersos no indigenismo e no nacionalismo. Suas exposições bem-sucedidas e uma série de prêmios abriram caminho para uma estadia em Madrid, Espanha, e posteriormente em Paris, França.
No final da década de 1950, Botero retornou à Colômbia e se casou com Gloria Zea, uma renomada gestora e colecionadora cultural, com quem se mudou para o México. Foi aí que Botero começou a desenvolver uma abordagem crítica em relação à arte nacionalista dos muralistas mexicanos e à arte moderna ensinada na Europa. Ele começou a forjar seu próprio caminho artístico, caracterizado por naturezas-mortas e formas ampliadas com cores vibrantes.
Jaime Cerón, curador e crítico de arte, observa que Botero, após sua primeira experiência na Europa, embarcou em uma fusão ousada entre a arte vanguardista e a figurativa. Suas inovações cromáticas, que se manifestavam na aparência de suas pinturas, eram uma revelação para sua época, criando uma atmosfera que parecia gerar uma harmonia invisível. Foi nesse contexto que Botero ousou criar sua própria versão corpulenta da Mona Lisa, desafiando as convenções estabelecidas.
Botero se destacou como o pioneiro de sua geração, buscando universalizar elementos da cultura antioqueña, do departamento de Antioquia, na Colômbia, sem se entregar ao nacionalismo exacerbado. Seu legado artístico continua a ecoar pelo mundo, celebrando a fusão única de suas influências e visão inovadora.
Texto: Rodolfo Abreu (@rodolfoabreu)
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