Duas peças imperdíveis se despedem do público carioca neste fim de semana, uma última chance para quem ainda não conferiu essas duas experiências teatrais. Em cartaz somente até domingo, os espetáculos “A Sala Branca”, no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), e “O Cachorro que se Recusou a Morrer”, no Teatro Glauce Rocha, são obras que comprovam a força da cena contemporânea e a importância de manter viva a relação do público com o teatro.
“A Sala Branca”, dirigida por Gustavo Wabner e com texto do dramaturgo catalão Josep Maria Miró, traz o encontro casual e misterioso de três ex-alunos com a professora que os alfabetizou, 40 anos depois. A partir daí, muitas revelações e emoções afloram, fazendo o púbico refletir sobre diversos aspectos de acontecimentos no ambiente escolar que impactam para toda a vida. Além do texto, destaque para as atuações de Angela Rebello, Daniel Dias da Silva, Isabel Cavalcanti e Sávio Moll. O autor do texto, Josep Maria Miró, tem outros trabalhos que fizeram sucesso na cena teatral carioca: “O Princípio de Arquimedes” e “Nerium Park”, sempre trazendo histórias impactantes, com temas que provocam reflexões no público. As últimas sessões de “A Sala Branca” acontecem de sexta a domingo, às 19h, no belíssimo prédio do CCJF, na Cinelândia.

Já “O Cachorro que se Recusou a Morrer”, com texto e atuação de Samir Murad; e direção de Delson Santos, encerra a mostra retrospectiva que apresentou quatro espetáculos dos últimos 25 anos de trajetória de Samir: “Para Acabar de Vez com o Julgamento de Artaud”, “Édipo e Seus Duplos” e “Cícero – a Anarquia de um Corpo Santo”. Em “O Cachorro que se recusou a morrer” Samir traz memórias, histórias e choques culturais de um imigrante libanês em sua luta pela sobrevivência numa terra estranha, em personagem inspirado pelo pai do ator-autor. A peça se propõe discutir o conceito árabe de Maktub, que que afirma que o Destino estava escrito. A mostra retrospectiva que encerra este final de semana é uma demonstração do talento e da perseverança que somente atores do calibre de Samir Murad são capazes de realizar, basta ver os depoimentos apaixonados do público que tem acompanhado as apresentações. Quatro produções distintas, que abordam personagens míticos e abordam temas que o público se emociona e reflete. As últimas apresentações da mostra com “O Cachorro que se Recusou a Morrer” ocorrem de quinta a sábado às 19h, e domingo às 18h, no Teatro Glauce Rocha, também no centro do Rio (metrô estação Cinelândia).

Teatro no centro: um hábito cultural que precisa ser retomado
Assistir a esses espetáculos é também um convite a retomar um hábito necessário: o de frequentar os teatros, especialmente no centro do Rio de Janeiro. A vida cultural da cidade passa por esses espaços históricos — muitos deles com entradas a preços populares — que seguem resistindo mesmo diante das adversidades. A queda de público nos últimos anos se deve a uma série de fatores, da pandemia às dificuldades de mobilidade urbana e segurança, mas é preciso lembrar que o teatro oferece algo insubstituível: o encontro vivo entre artista e plateia.



Cada sessão é uma experiência única, unindo a energia do público presente com a dos atores. É um ritual sensorial que envolve diversos sentidos. Viver a experiência teatral é estar diante do agora — e isso não pode ser pausado, rebobinado, nem repetido. A presença física no teatro é, portanto, um ato de resistência, uma afirmação da nossa humanidade diante de um mundo cada vez mais mediado por telas e distrações. Frequentar os teatros também promove um encontro com nosso centro histórico e com edificações que, por si só, já são um belo motivo para um passeio.,


Essas duas montagens — tão diferentes e igualmente instigantes — mostram que o teatro continua a se reinventar, a provocar, a emocionar. E precisa do público para que essa troca única e insubstituível continue.
SERVIÇO
A SALA BRANCA
De sexta a domingo, às 19h
Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) — Av. Rio Branco, 241, Cinelândia
Ingressos e mais informações: https://linktr.ee/asalabranca
O CACHORRO QUE SE RECUSOU A MORRER
De quinta a sábado, às 19h | Domingo, às 18h
Teatro Glauce Rocha — Av. Rio Branco, 179, Centro
Ingressos e mais informações: https://www.sympla.com.br/produtor/casa136producoes
Texto: Rodolfo Abreu (@rodolfoabreu)
Imagens: Divulgação