No sábado 1º de junho, o clube Manouche vai ser palco da festa “Baila Comigo”, projeto dançante que celebra o legado de Rita Lee, a Rainha do Rock do Brasil. Um ano depois da morte da ovelha negra da MPB, sua música e seu espírito rebelde são lembrados nessa produção dos DJs Kamille Viola e os irmãos Luiza e Guilherme Scarpa. Nessa edição especial, haverá a participação do músico George Israel com sequência de live sax e de Anderson Coutinho no piano.
Criada para trazer perpetuar a alegria que marcou a carreira da eterna mutante, a festa começou há um ano no Culto Bar, em Botafogo, parando a rua Arnaldo Quintela, com o público cantando os hits da artista como “Lança perfume”, “Chega mais” e “Nem luxo, nem lixo”.

Guilherme Scarpa, jornalista, assessor de imprensa e fã de Rita, um dos idealizadores da festa, fala da edição especial de “Baila Comigo” e das participações que acontecerão no clube Manouche.

Rodolfo Abreu: Um ano depois da passagem de Rita Lee, as pessoas ainda estão consumindo frequentemente suas músicas e falando dela! Na sua visão, o que Rita (e sua obra) tem que a gente não desapega?
Guilherme Scarpa: Rita Lee me lembra sempre um lugar irreverente, divertido, leve, amoroso. Gostava de vê-la fantasiada, encarnando alguma personalidade – a Miss Brasil 2000, a Vamp, a Erva Venenosa, na TV, quando era criança e adolescente. Amo o deboche, o jeito dela de ler o mundo. Sua musicalidade é muito pop e envolvente, aquele sorriso, as caretas, e tão amorosa ao mesmo tempo, tão fora da lei. Não tem como a gente não amar ou não se identificar com ela. Deixa um legado imenso como mulher e artista e músicas que residem na gente permanentemente.
Rodolfo Abreu: Nas edições anteriores da festa “Baila Comigo”, que começou em Botafogo no Culto, que hits da Rainha do Rock Brasil as pessoas pediam caso vocês demorassem a tocar? E toca outras coisas além de Rita também?Guilherme Scarpa: A festa foi criada de um dia para o outro. Eu não queria esperar nem a semana seguinte – e a Kamille e minha irmã concordaram também com isso. A gente sabia que a luta dela contra o câncer estava braba. As fotos dela perto de morrer a mostravam muito frágil. E ela era o oposto disso. Eu estive com Rita duas vezes no seu camarim pouco antes de ela se aposentar dos palcos e me lembro do abraço “elétrico” que recebi dela na primeira vez. Foi uma energia que eu nunca tinha sentido antes. Ela morreu numa terça e foi tão dolorido, como se uma tia ou algum parente muito próximo da família tivesse morrido. Eu lembro que corri para a sala e peguei o vinil do “Entradas e Bandeiras”, que tem a música “Coisas da Vida”. Tenho uma história muito linda com a faixa, é uma letra sobre chegadas e partidas, o acaso, foi feita por Rita sozinha ao piano. Em 2012, ela e o Roberto me cederam gentilmente o fonograma para a trilha do curta “Acontece”, que dirigi com o Felipe O’Neill e que foi selecionado para o Festival do Rio naquele ano. Quando eu lembro disso, me emociono muito. Foi importante demais na época. Eu chorava na ilha de edição, pois tinha acabado de perder a minha mãe e Rita me consolava com a música e o gesto tão generoso. Na festa, nós tocamos tudo de Rita Lee, passando por Mutantes e a época dela com o Tutti Frutti. Claro que os big hits, como “Lança Perfume”, “Flagra”, “Agora Só Falta Você”, “Chega Mais”, não podem ficar de fora. Mas temos remixes, versões ao vivo, covers, músicas que a Rita deu para outros artistas. Na primeira edição foi lindo ver todo mundo cantando e dançando. Tivemos um momento “Ovelha Negra” no final, muito especial também. Sentimos que deveríamos transformar dor em calor humano e celebrá-la com uma festa.

Rodolfo Abreu: Como funciona a divisão das “pick-ups” entre a Kamila, a Luiza e você?
Guilherme Scarpa: Cada um de nós tem uma personalidade como DJ. Eu sou mais pop/soul, acredito. Luiza é mais do rock e eletrônico, Kamille é do indie, mas também é muito pop ao mesmo tempo. A gente fica se revezando. Como já tocamos há muitos anos juntos, já conhecemos o repertório um do outro. Então essas divisões acontecem naturalmente sem que a gente repita música. Em se tratando de Rita Lee, a gente vai atrás de artistas contemporâneos dela ou que a influenciaram. E aí vem Caetano, Rolling Stones, David Bowie, Gal… e isso abre espaço para o rock Brasil dos anos 1980, Marina, Lulu… e entra também Michael Jackson, Madonna. A gente acaba colocando a Rita junto com outros ícones, não tem jeito.

Rodolfo Abreu: O público da festa “Baila Comigo” entra no clima da festa indo também com algum look que lembre Rita Lee, como camisetas, perucas ou outros acessórios?
Guilherme Scarpa: Eu mesmo tenho uma camiseta linda com uma foto dela, quero comprar uma outra agora para a festa. Acho que glitter, purpurina, óculos, vejo de tudo no público. A Rita tem uma vibe naturalmente festiva e inspiradora para looks e adereços. Querendo reproduzir na festa a piscina de celofane azul do icônico disco Rita e Roberto, de 1982.
Rodolfo Abreu: Essa é uma edição especial. Como vai ser a participação do George Israel (no sax) e do Anderson Coutinho (no piano) nesta edição da festa? Vão tocar em cima de algumas músicas?
Guilherme Scarpa: George Israel é um dos artistas mais generosos que eu conheço. Nós já tínhamos tocado junto nas festas Tracks e Rockeria no passado. E era sempre muito especial. Tenho o maior respeito por ele, um dos compositores do hino “Brasil”, que Cazuza, Gal e Cássia Eller imortalizaram em suas vozes, canção sempre atual. George vai fazer o live sax com certeza nesta faixa, mas também em algumas bem emblemáticas da Rita que tem tudo a ver com o instrumento. Vai abrilhantar muito a nossa noite. E o Anderson Coutinho é um músico muito sensível, grande fã da Rita Lee, colecionador da obra dela, um estudioso de sintetizadores, um mago mesmo. Ele vai tocar no piano de cauda do Manouche as introduções clássicas das músicas “Dançar para Não Dançar” e “Lança Perfume”. Vai ser épico e inesquecível.
SERVIÇO
“Baila Comigo” – edição de 1 ano
Clube Manouche
Rua Jardim Botânico 983, Jardim Botânico
Data: 1 de junho, a partir das 22h
Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia solidária + 1 kg de alimento não perecível) – aqui

Texto: Rodolfo Abreu (@rodolfoabreu)
Imagens: Divulgação