Em foco – Olá, Maria Cristina! Onde você nasceu? Sua família? Infância? Formação fundamental e média?
Cristina Farage – Nasci em Cataguases, Minas Gerais, localizada na Serra Verde. De fato, o verde lá é especial e chegou a ser descrito por Tarsila do Amaral como o verde “Cataguases”. Terra da Revista Verde, uma combinação de sol e rio, motivo ao qual a minha família de imigrantes árabes escolheu o local. Diziam fazer calor como no Egito. Lado à descendência italiana, a família Minelli de Leopoldina; de outro os portugueses e indígenas, nativos da Serra da Onça, os Borges Ribeiro e Dias Ferreira, formando um contexto de culturas muito diversas. Essa é realmente uma história que gosto de contar. A minha formação se deu em escola laica (Colégio Machado Sobrinho), tradicionalmente vanguarda raiz de Juiz de Fora e o ensino médio em educação católica (Colégio Santa Catarina), da missão alemã, em Juiz de Fora.
Em foco – Como se deu o seu interesse pelas artes plásticas? Onde você se formou?
Cristina Farage – Na minha infância entre Juiz de Fora e Cataguases, nos programas reforçados pela cultura era tudo muito sensorial, os museus das cidades, as aulas de coral, a formação no Conservatório Estadual de Música até a Faculdade de Artes da Universidade Federal de Juiz de Fora à Especialização em Psicopedagogia Clínico-Institucional nas Faculdades Simonsen e as veredas da Educação Especial – para a Diversidade – junto à uma experiência de Educação Integral nas Escolas Rurais, isso quando falamos da escola da vida que nos ensina.
Em foco – No seu ponto de vista, o que é ser uma artista plástica? Quais são as características do seu fazer artístico?
Cristina Farage – Artista plástica(o) é ser um capaz de atos políticos porque toda produção envolve posicionamentos históricos e chaves para comunicar as nossas revoluções e resoluções internas e externas. Ser artista é estar ao lado do filosófico, conceitual, sempre tentando ou testando conceitos, ideias, apontando luzes, caminhos, possíveis ciências e no meu caso gosto dos estudos de imagens, signos, símbolos, chegando à possiblidades infinitas. Ser artista é promover educação de público. Ser artista é tornar-se conhecimento próprio e seguir adiante. Sou profundamente educadora de público e amo isso.
Em foco – Você além de pintar ou produzir esculturas, também leciona? Exerce funções educativas?
Cristina Farage – O tempo todo tenho exercido minha função educativa na sociedade, na vibração incentivando com a minha nova função de galerista que adquire conhecimento junto aos materiais contemporâneos e antigos, aos públicos, à elucidação da história geral de cada peça e sempre surgem novos desafios…
Em foco – Qual é a função do artista na sociedade? A sociedade brasileira dá o verdadeiro reconhecimento ao artista brasileiro?
Cristina Farage – Sobre o reconhecimento da sociedade brasileira não é exatamente o que busco, mas já recebi boas críticas que nortearam o meu trabalho artístico e também junto à educação de público. Devemos ser capazes de admirar o que é bom, simplesmente por ser bom e saber valorizar. Artistas são espelhos da sociedade, somos antenas sociais. A sociedade brasileira está em aprendizado sobre esse tema, não só aqui mas no mundo inteiro e isso é muito positivo.
Em foco – Como foi o processo de deixar de atuar como arte-educadora para se tornar uma mulher empreendedora com a criação da Badalo Studio Galeria? Quais os projetos que você desenvolve no momento no referido espaço?
Cristina Farage – Desde 2018 desenvolvo um processo de criação de produtos autorais para a Badalo, são coisas de casa, roupas temáticas para casa, almofadas especiais, criação de bijóias, arranjos florais, entre outros, com foco em aumento de geração de renda e trabalho para artesãs em situação de risco social. Então o processo foi bem automático, pensando em como desisti da faculdade de Administração que sempre esteve presente nos meus projetos e produções intelectuais ao longo da carreira e a pós em Moda, Arte e Cultura de Moda ambos ficaram na vivência, na produção artística, na curadoria, conhecimentos para a gestão. Internacionalmente a Badalo Studio Galeria desenvolve o projeto Lost Paradise, aonde artistas de vários continentes estão em contato a fim de formarem laços e com visibilidade alcançarem seus próprios voos e internacionalizarem sua arte, também. O meu projeto pessoal de internacionalização veio de iniciativas muito anteriores, sendo que assim comecei a relacionar-me com grupos internacionais de artistas ao longo do mundo. Em dezembro, participarei à convite de uma exposição em Amsterdam. E é sobre a paz mundial, tema primordial para que continuemos a sonhar e realizar…
Em foco – Sobre a sua próxima exposição intitulada Fractais da Memória, como surgiu o projeto? O que você irá apresentar ao público?
Cristina Farage – A exposição Fractais Tiradentes, que acontecerá no Centro Cultural Correios Niterói abre em 11 de novembro e trata das pareidolias obtidas através da junção de fractais que são um processo matemático de determinadas partes e numerações de imagens que repetidas geram imagens simbólicas para elementos de uma cultura universal sugerindo coincidências históricas documentadas em formas aleatórias surgidas na combinação do processo digital x jogo matemático. Ou melhor, aproveito a coincidência metafísica das imagens que surgiram para lançar um desafio a quem se fizer presente: a pergunta é sobre se haveria uma espécie de memória espelhada revelada entre a combinação matemática e os objetos da história? E a sugestão é: não deixe de ir. Os materiais fotografados foram pedras das ruas, telhas rústicas empilhadas na estrada, banco mineiro e janelas. A exposição tem imagens do chão às paredes e proposta imersiva. Na curadoria: Alexandre Murucci.
Em foco – Você já participou de algumas exposições internacionais, incluindo o Lost Paradise, conte um pouco desta trajetória.
Cristina Farage – Sobre Lost Paradise especificamente, espero que em breve tenhamos novas movimentações. Do projeto já surgiram frutos. Exposições realizadas, artistas inseridos em contextos do mercado de arte e constantes evoluções nesse sentido e 2024 será um ano pontual para o projeto instituído bienal à princípio. Tudo depende do contexto internacional e a cultura de paz à qual vejo-me inserida desde o início da minha carreira internacional.
Tudo começou por contato online com a busca por uma exposição e inserção em um grupo internacional de artistas, que mais tarde vim a conhecer. Alguns pessoalmente aqui no Brasil e em Amsterdam, através do movimento pela paz, nascido de uma ideia minha em junção com uma mente realizadora. A a partir daí começaram meus conhecimentos internacionais e as comunidades internacionais de artistas não param de contactar. Realizei muitas exposições internacionais e nacionais as que considero mais importantes são: Mostra em Acervo, Galeria Gozto, Largo do Boticário, Rio de Janeiro. Em 2022, coletiva na ArteBo, Bologna, Itália. Coletiva Aesthetics of Faces, Beyond the Borders, no Fantapia Museum, Coréia do Sul.
Lost Paradise Project, exibição em Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes; anos 21/22. Em 2020, Galeria M. Bloais, Rio de Janeiro. Em 2019 Individual Retrospectiva no Centro Cultural Municipal da cidade de Tiradentes, Minas Gerais. Em 2017 , Fractais da Memória na participação Bienal de Curitiba, Circuito Oficial Galeria Ayres. Em 2013, Miami Basel Art Fair pela galeria See.me, NY com Blue Butterfly… em 2011, acervo em Museu da Casa e do Design Rostov, Rússia, Coletiva Galeria de Viagem em Viena, Áustria. Já no Brasil, em 2004, Individual, Fotografia Circuito Santa Teresa Florida, Rio de Janeiro. Em 2003, Mostra Fotográfica experimental no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, ala fotográfica, na cidade de Juiz de Fora, Mostra individual para Visões, Espaço Cultural Unibanco Palace, CineArt, Juiz de Fora, MG. Em 2002 com participação no Salão do Prêmio Revelação de Artes Plásticas, Museu de Arte Contemporânea de Americana, SP, categoria desenho do qual obteve dos críticos anotações muito positivas e relevantes norteadoras de toda a minha atuação artística; 2001 Individual Verso Reverso. Palíndromos. Galeria Parangolé, Brasília, Distrito Federal, categoria pintura; 2000 Brasil do Novo Milênio – A Arte de Minas, Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, desenhos; em 1999, Jogos de Encaixe na Reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora, atual MAM/JF.
