Em foco – Olá Udi! Onde você nasceu? Sua família? Infância? Formação primária e secundária?
Udi Fagundes – Nasci na cidade de Viamão, na grande Porto Alegre. Eu vivi lá até os meus 13 anos e então fui para a capital, na zona sul, no Bairro Restinga, que é uma referência de cultura na cidade. Minha família é da fronteira do extremo sul do Brasil, de uma cidade chamada Uruguaiana, que faz divisa com a Argentina. Minha infância foi em uma família matriarca. Fui criado pela minha avó, depois que meu avô morreu, quando eu tinha sete anos. Jogava muito futebol, frequentava a Igreja evangélica com minha avó e foi lá que vi um guitarrista tocando e me interessei pelo instrumento, mas só fui pegar em um violão aos 15 anos, porque éramos muito pobres e eu não tinha condições na época de comprar. Minha formação por muito tempo foi de um autodidata. Mais tarde, consegui entrar no Conservatório Brasileiro de Música para fazer a Faculdade de Música e Tecnologia, porém não cheguei a completar o curso.
Em foco – Quais são as suas referências no universo musical?
Udi Fagundes – Penso que a rádio AM, que estava sempre ligada em minha casa, ajudou muito na minha formação. Ali penso que foi o meu contato com o Brasil profundo, porque ali estava a música do povo. Depois, na adolescência, comecei a escutar rock com Janis Joplin, Beatles, Raul Seixas e em seguida, um rock mais pesado, trash metal com Sepultura e outros grupos. Cheguei até a formar uma banda do gênero, mas comecei a escutar a MPB. Aí já viu, né? A minha referência é o Tom Zé, pensando em som estético gosto muito de Gil, Caetano, Elza Soares… são tantos hehehe. O Manu Chao foi uma grande referência para o olhar na América Latina e da World Music que no momento mais me identifico.

Em foco – Por que a escolha de Portugal para viver? Como os músicos brasileiros são recebidos em terras lusitanas?
Udi Fagundes – A escolha foi forçada por causa da pandemia + Bolsonaro. Com a extinção do Ministério da Cultura e a chegada da pandemia, vi que a situação ia ficar bem difícil. No verão de 2020, houve uma abertura em Portugal e estavam acontecendo shows por aqui. Um amigo músico estava em Lisboa e me disse: olha, toco todos os dias aqui, e aí eu vim para Portugal. A Música Brasileira é muito querida na Europa, muito também por causa da Bossa Nova, mas o público daqui conhece vários outros artistas do Brasil também. A questão da vivência no dia a dia é que muda, porque você passa a ser um imigrante e na real, ninguém te quer muito aqui.
Em foco – “Em cada canto dessa terra tem um pouco de África”. O que essa frase significa para você?
Udi Fagundes – Um dia quando fui à China, em Macau, para um show com o Gabriel Pensador, fui dar uma volta na praça e tinha um grupo de música chinesa tocando e percebi um toque que era idêntico a de uma das levadas do Maracatu. Aí pensei na hora! Nossa!! A África está aqui também em forma de música. Isso nunca mais saiu da minha cabeça, porque não era uma mistura, era uma música tipicamente chinesa.
Em foco – Você integrou a banda do cantor Gabriel, o Pensador. Como foi trabalhar com ele?
Entrei na banda em 2011. Eu conheci um amigo dele, o produtor Pedro Bernardes, em uma festa que entrei de penetra em Santa Teresa, na casa da Talma de Freitas…. rsrs. Fizemos uma jam juntos. Ele gostou e me indicou para o Gabriel que estava precisando de um guitarrista que tocasse e cantasse. Fiquei direto até 2020, quando vim para Portugal e agora faço os shows quando ele vem para cá. Tenho muito a agradecer ao Gabriel por essa oportunidade. Ele me fez conhecer o Brasil inteiro, países da África e Oceania, e também foi ele quem me deu a oportunidade de eu cantar uma música minha e ele gostava de rimar em cima. Sempre foi muito parceiro!

Em foco – Você está lançando o seu single da canção ‘Petit Pays’. Como é a sua nova produção musical?
Udi Fagundes – Essa música reflete o meu encantamento por Cabo-Verde, quando fui lá com o Gabriel, em 2014. Não conhecia a música de lá e fiquei apaixonado, conheci a obra da Cesária Évora e comecei a colocar as músicas que ela cantava no meu set list. Em 2020, ia estrear um tributo a ela no Rio chamado “O samba de Cesária”, que era uma leitura brasileira a partir do samba, misturado com milonga e candombe, do Uruguai. Com a pandemia, mudaram os planos, e resolvi trazer a ideia para Portugal. Fiz uns concertos em Lisboa e em Londres desse projeto e queria celebrar ele gravando essa música que fala da saudade que o compositor sente do seu país e me reconheci também com a saudade do Brasil. A produção é do Celso Rangel que colocou a mão na massa e sintetizou minha loucura rsrsrs, querendo misturar Samba e Milonga, mas acho que deu certo! Participam músicos de excelência nesse single que são: o Gabriel Selvage no violão 7 cordas (ele é gaúcho também), Neném do Chalé na percussão(cria da Mangueira), Vitória Faria(Sanfona) e o And (percussionista de SP).E bom lembrar que o compositor desta música é o Nando da Cruz.
Em foco – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma frase para os seus seguidores.
Udi Fagundes – Estou planejando um EP de releituras para janeiro e um álbum autoral para abril. Quanto a frase, aí está: “Seja o que você faça, o coração vem na frente, e a razão vai entender”.