Em foco – Você está completando 50 anos de carreira. E está recebendo da sua Estação Primeira uma bonita homenagem. Como está se sentindo?
Alcione – A ficha ainda não caiu…Jamais imaginei receber tal honraria, tantas flores em vida! Sem palavras, literalmente, para expressar minha felicidade E acabei de saber que também fui escolhida como enredo da nossa escola mirim: a Mangueira do Amanhã! Dose dupla de alegria.
Em foco – Para a comemoração dos seus 50 anos, preparou uma agenda recheada de shows, seja em locais populares, como as lonas culturais, ou em lugares mais refinados como o Theatro Municipal do RJ. Como está sendo o retorno do público? Você está conseguindo alcançar o que planejou?
Alcione – Todo artista deve ir aonde o povo está, e as lonas e arenas culturais são espaços acessíveis ao público em geral. Mas, também, é importante vestir, em trajes de gala, a nossa já belíssima música popular. A cultura não deve ser limitada, ficar confinada a espaços específicos…Não deve ser seletiva, e merece ser apreciada por todo o tipo de público!
Em foco – Qual foi a música que marcou em definitivo a sua carreira ou foi o conjunto da obra? Qual o LP que explodiu de sucesso?
Alcione – Tive algumas canções que foram sucesso, o pontapé inicial para essa trajetória. Músicas como “Sufoco”, “O Surdo”…mas foi com “Nem morta”, do álbum “Fogo da Vida”, que conquistei meu primeiro disco de platina. Aliás, de platina dupla! Mas procuro sempre estar conectada com o público, e acho que tenho conseguido. (Risos)
Em foco – Você sempre teve um papel ativo na Estação Primeira, seja na Mangueira do Amanhã, seja em projetos sociais. Você permanece a frente desses projetos?
Alcione – Este ano, com o advento do cinquentenário, minha agenda ficou ainda mais recheada de compromissos. Inclusive, por ter sido escolhida para ser o Enredo das duas Mangueiras, o que me emocionou demais. Também terei muitos compromissos em conjunto com elas. Mas tem gente muito competente cuidando dos projetos da Estação Primeira.
Em foco – Seu pai teve uma importância fundamental para desde menina lhe inserir na música. Comente sobre a importância do lado paterno no estímulo pela vida musical. Você teve apoio familiar?
Alcione – Sim, ele foi regente de banda, no Maranhão, e nos ensinou a tocar instrumentos, contemplou-nos com uma cultura musical porque achava importante. Mas, quando resolvi ser cantora profissional, não apreciou muito… Ficou preocupado com o meu futuro, com o que enfrentaria para alcançar meus objetivos. Porém, depois, ao ver que não desistiria dos meus ideais, o apoio familiar não faltou. Muito pelo contrário.
Em foco – Você é formada como professora primária pela Escola Normal. Para você, qual é a importância da Educação? O caminho do despertar do “gigante adormecido” é pela Educação?
Alcione – A Educação é primordial, uma luz fundamental para iluminar os nossos caminhos. Sem ela, somos vulneráveis, ficamos à deriva, à mercê de tudo e todos. Ninguém ou nenhum país cresce, se desenvolve, sem uma educação de qualidade e acessível a todos.
Em foco – Você é maranhense de nascimento. Passou infância e adolescência em São Luís. Já adulta veio para a cidade do Rio de Janeiro. Como era a São Luís do tempo em que lá viveu, e a dos tempos contemporâneos? Teve transformações?
Alcione – A “São Luís dos sobrados”, como diz a canção, ficou de forma muito lúdica em meus pensamentos. Era a época das brincadeiras infantis, das festas tradicionais, da familia reunida nos bons e maus momentos. Hoje, para mim, ela continua linda e acolhedora, e tenho orgulho da minha terra. Mas é, como todas as outras, atualmente, uma grande cidade. Com suas coisas boas e problemas naturais.
Em foco – O que é ser negro no Brasil?
Alcione – É continuar lutando com os preconceitos absurdos e arraigados que, infelizmente, ainda resistem. Caminhamos bastante nos últimos tempos. Mas falta muito ainda, apesar do empenho de tanta gente em promover mudanças e conscientização…
Em foco – O samba não pode morrer. E lhe pergunto se está havendo renovação no âmbito do conjunto das cantoras sambistas. Tem gente de qualidade surgindo?
Alcione – Sim… e como tem gente boa… O Brasil, como se diz por aí, é um país de cantoras!!! E o samba é um desses redutos que aglutinam novas intérpretes e compositoras. Elas estão “dominando a cena” pelas rodas de samba. Aguardem, porque essas meninas são danadas de boas…rsrs
Em foco – Quais são os seus projetos futuros? E para finalizar, deixa um recado para a rapaziada desse Brasil.
Alcione – Sempre digo que tenho muitos projetos, e é verdade. Mas, atualmente, com as comemorações pelos 50 anos de carreira meu tempo está sendo escasso para tantos compromissos e shows. Quanto a um recado para a rapaziada, gostaria apenas de ensejar que nossos jovens tenham acesso à educação, saúde, e à todas as suas necessidades básicas. Para que possam não apenas sonhar mas, sim, transformar em realidade todos os seus sonhos!