Em foco – Mucki, nos conta sobre o seu dia-a-dia na fazenda onde você reside na região do Uma, ao sul de Ilhéus, na Bahia.
Mucki Botkay – Eu passo bastante tempo no sul da Bahia.
Tenho uma relação intensa de amor com aquele lugar.
Chego em casa num barquinho por dentro do mangue, que brinco que é meu quintal.
Cadê vez que chego lá vem uma alegria imensa de sentir que é o primeiro dia de muitos e a cada partida já organizando a volta.
Fico meses e não existe tédio .
Tenho um atelier lá e produzo bastante.
Basicamente meus dias baianos são de muita paz e tranquilidade.
Em foco – Você é carioca! Em que bairro você nasceu? Seus pais? Infância? Onde você estudou?
Mucki Botkay – Sou carioca, nascida e criada em Ipanema.
Meu pai era húngaro. Minha mãe ítalo – brasileira. Tive uma infância linda.
Estudei dos 15 aos 21 anos na Suíça, sendo dois anos em colégio interno de freiras.
Imagina uma adolescente de ipanema em um colégio cinza, frio e cheio de regras … mas foi ótimo , muito importante na minha formação ver o mundo sozinha aos 15 anos.
O que mais lembro desse tempo eram as aulas de história da arte. A professora não era freira, era jovem e bonita, e aquelas aulas me transportavam para um mundo cheio de cor e arte, longe daquelas paredes cinzas.
Meu amor pela arte começou ali.
Em foco – Você estudou artes decorativas em Genebra, na Suíça. Onde você estudou? Qual é a sua formação? Como foi essa experiência européia?
Mucki Botkay – Depois do colégio interno, eu fui morar sozinha em Genebra aos 18 anos e aquele tempo da minha vida foi muito muito bom.
Estudei artes decorativas por três anos e adorava aquele curso.
Em foco – Em que momento da sua vida despertou o interesse em trabalhar com as cores?
Mucki Botkay – Como falei acima foi nas aulas de história da arte no colégio interno.
Mas comecei a pintar em um final de semana na fazenda do Pedro Espírito Santo.
Meus amigos e eu começamos a pintar um lençol como brincadeira e daí tudo começou.
Em foco – No ano de 1989, você inaugurou seu primeiro ateliê na cidade do Rio de Janeiro. Você chegou a ter cinco lojas em que você expunha suas criações de arte utilitâria. Como foi esse momento da sua vida?
Mucki Botkay – A parte das lojas e do comércio foi a parte mais chata e pouco criativa.
Em foco – Seus trabalhos têm uma forte inspiração na natureza e caracterizam-se por ser um “mar de cor”. Comente sobre a articulação entre natureza e cores na sua produção artística.
Mucki Botkay – Eu amo a natureza. Nós somos parte da natureza.
Eu vivo na natureza.
Minha casa no Rio é no meio da mata, tenho três cachorros, e aonde trabalho com verdes por todos os lados.
Ou na Bahia em uma praia deserta.
E cada vez mais preciso estar próxima da natureza, que é fonte de tudo.
De toda e qualquer inspiração.
Em foco – Nas horas vagas você também surfa. O mar te fascina?
Mucki Botkay – Amo o mar desde sempre.
Comecei a surfar mais velha, aos 57 anos. Eu adorava ver filmes de surf e resolvi que ia tentar.
E não é que deu certo!
Como esse esporte faz bem. Você sempre sai do
mar melhor que entrou.
Muitos tombos e caldos mas a diversão supera tudo.
Recomendo a todos.
Em foco – Comente sobre o projeto que você desenvolve com mulheres da Vila de São Sebastião da Cova da Onça, na Ilha de Boipeba, Bahia, ensinando-as a bordar.
Mucki Botkay – Não tenho mais esse projeto de bordados.
Em Cova da Onça, nós temos uma pequena escolinha que ajuda a alfabetizar adultos e ajuda também a crianças especiais.
Os bordados hoje são feitos 90% no Rio em diversas comunidades, gerando trabalho a quase 30 mulheres.
E 10% em Olivença na Bahia.
Em foco – No ano de 2017, você apresentou na Galeria Arquivo Contemporâneo, em Ipanema, uma exposição em que foram exibidos linhos em forma de tela, bordados à mão com muitas cores. Como se dava o processo de criação dessas telas?

Mucki Botkay – Essa exposição foi muito diferente dos meus trabalhos atuais. Eram trabalhos que eu tingia os linhos à mão, depois desenhava esses linhos, cortava, e a composição do trabalho, e ela vinha dos recortes, não era uma coisa pré-estabelecida. Era um processo diferente. Eu ainda continuo usando esse processo. Mas 2017 foi esse.
Em foco – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma mensagem para os admiradores da sua arte.
Mucki Botkay – Fui convidada por uma galeria de Veneza, na Itália, que exibirá a partir de 07 de outubro. O trabalho manual é muito valorizado no exterior.