O musical celebra a vida e obra da artista Leci Brandão, que é narrada a partir da história dos orixás que cultua, as divindades Ogum e Iansã, e por meio do olhar de sua mãe, dona Lecy. O caminho seguido pela artista é apresentado ao som de sucessos como Isso é Fundo de Quintal, Zé do Caroço, Das coisas que mamãe me ensinou, A filha da Dona Lecy, Ombro amigo, Gente negra, Preferência, entre outros.
O musical é bonito, alegre, potente, emotivo e poético, configurando-se como uma irretocável homenagem a carreira da artista, que em sua trajetória associa o perfil de cantora-sambista, seguidora dos orixás, e política. Leci é uma figura marcante do empoderamento feminino, que luta e briga pelo espaço da mulher preta e pela inclusão dos socialmente excluídos. É uma figura da resistência. Balança, mas não cai!
A atriz Patrícia Costa faz uma mãe, dona Lecy de Assunção Brandão, cuidadosa, afetuosa, carinhosa e atenta aos passos da filha.
Por sua vez, Tay O’Hanna faz a Leci Brandão da Silva, mulher guerreira, lutadora, ativa, autentica, corajosa, cantora consagrada, devota dos orixás, política que luta pelos oprimidos, e que defende suas convicções. Ela canta e interpreta de forma impecável as canções de sucesso da artista.
O texto de Leonardo Bruno explora de forma profunda a relação entre mãe e filha, relação que foi muito intensa até o falecimento de Dona Lecy. A narrativa da dramaturgia mostra o diálogo entre as duas, caracterizando-se por reciprocidade e afetuosidade. Elas se complementavam, estavam unidas. Dona Lecy era a referencia de Leci. É o olhar da mãe que atravessa o texto.
Matheus Dias interpreta Zé do Caroço e outros personagens masculinos do musical de forma convincente. Um momento sublime se dá, logo no início do espetáculo, quando aparece no centro do palco cantando uma saudação para Exu.
A direção de Luiz Antonio Pilar é pontual e certeira. Ele se preocupa com a interpretação perfeita dos atores. E, de fato, estão impecáveis. Ademais, suas atuações deixam transparecer emoção. Os atores por meio dos seus personagens permitem ao público conhecer a trajetória de Leci, e contagiam a todos com alegria e sentimento.
A cenografia de Lorena Lima é bonita, criativa e adequada ao contexto da peça. O chão do palco está repleto de folhas verdes de mangueira, um alguidar com pipocas, e uma árvore, rodeada por pedras. Ao fundo compondo a cenografia estão quatro músicos.
Os figurinos criados por Rute Alves, são de bom gosto, elegantes, e bem modelados.
No figurino de Dona Lecy predomina o verde. E no de Leci o verde e rosa, cores da sua Estação Primeira.
Por sua vez, o figurino de Matheus Dias é bastante interessante. Ele usa uma camisa branca com suspensório feito com lapela de terno e uma pintura com os barracos do morro de mangueira nas costas, uma calça preta, e nos bolsos ele leva dois óculos para compor os personagens Flavio Cavalcanti e cartola, dentre outros que ele interpreta.
Os atores são acompanhados por quatro músicos (Matheus Camará, Thainara Castro, Pedro Ivo, Rodrigo Pirikito) que tocam diversos instrumentos, contribuindo para a qualidade do espetáculo.
O figurino criado para os músicos também por Rute Alves é constituído por uma pantalona com chemise. Em cada um aparece representado por meio da pintura e dos acessórios um orixá ligado a Leci, como Exu, Iansã, Ogum, Caboclo, e o rei das ervas.
A direção musical é de Arifan Junior que selecionou as canções de Leci que mais fizeram sucesso. E ainda inseriu Corra e olhe o céu, de Cartola, e o samba-enredo da Mangueira História pra Ninar Gente Grande, campeão de 2019. O público se sente num grande show de samba.
A iluminaçao criada por Daniela Sanchez é bonita, adequada, e contribui para embelezar as interpretações dos atores em suas respectivas cenas.
E, por fim, sublinhamos o cuidado e o zelo de Bruno Mariozz com a produção do espetáculo.
Leci Brandão Na Palma da Mão é um musical com uma direção segura e potente; um elenco com uma atuação impecável; e cenografia e figurinos de bom gosto e qualidade.
Excelente produção cênica!