No ano de 2010, o GRES Unidos de Vila Isabel apresentou como tema de enredo Noel: A Presença do “Poeta da Vila”. Naquele momento se comemorava o centenário de nascimento do cantor e compositor. A Vila fez um desfile lindo e luxuoso, bastante elogiado pela crítica de carnaval, e recebendo diversas premiações. O samba-de-enredo de Martinho da Vila foi nota dez. O título não veio, mas a Escola retornou no sábado das campeãs, ficando na quarta colocação.
Como o desfile da Agremiação, o musical Noel Rosa: Coisa Nossa estreou no Teatro Prudential no dia 31.08.2023, e de forma exitosa, sob múltiplos aplausos. O musical é uma idealização da dupla Eduardo Barata, e Marcelo Serrado, com direção de Cacá Mourthé.
O enredo musical é bastante semelhante ao apresentado pela Escola de Samba. Os dois partilharam da mesma referência. A obra biográfica intitulada Noel Rosa: uma Biografia, de João Máximo e Carlos Didier. Máximo, na ocasião, palestrou para os autores do enredo da Vila. Inclusive, amigo de Martinho.
Por sua vez, o imortal Geraldo Carneiro, autor do texto, contou com o nobre auxílio de Carlos Didier.

O musical entrelaça texto e musicalidade de forma perfeita. As informações sobre a vida do autor são complementadas por suas canções, muito bem cantadas e interpretadas pelos dois atores que atuam como Noel: Alfredo del Peño, e Fábio Enriquez. Por sinal, estão afiados e afinados, dando uma unidade á interpretação do personagem.
As músicas foram escolhidas a dedo. Noel produziu muito! E sublinha-se as da contenda musical envolvendo Noel e Wilson Batista. Uma das preciosidades de Noel é “Feitiço da Vila” e “Palpite Infeliz”, todas criadas nesse contexto. Por sua vez, Wilson criou “Frankstein da Vila”. Registra-se que a direção musical é do próprio Alfredo del Peño.
Noel era da orgia, dos bordéus! Vivia de bar em bar, e de mulheres em mulheres. Veio ao mundo no ano de 1910, quando pela Terra passou o cometa e João Cândido gritou dos horrores da chibata. Suas notas musicais embalaram carnavais, e subia o morro para compor com os compositores que lá viviam. Com Wilson Batista se envolveu numa contenda musical. Ficou tísico e descansou em 1937. Ficou esquecido, e, mais tarde, nas boates de Copacabana, Araci de Almeida o resgatou. Essa foi a sua curta passagem por esse planeta. Mas deixou um legado musical gigantesco, que o espetáculo resgata de forma primorosa, num excelente texto, conforme já informamos, redigido pelo imortal Geraldo Carneiro.
Os cenários e figurinos são de Ronald Teixeira. Os cenários são compostos por projeções, com uma caricatura de Noel e uma paisagem da cidade do Rio de Janeiro. Por sua vez, os figurinos recriam o ar das décadas de vinte e trinta do século passado, época dos malandros na Lapa, terno de linho e chapéu panamá, e as mulheres com vestidos que usavam nas boates e gafieiras todos cheios de franginhas. Simples, mas corretos. Noel era simples, vivia no meio de pessoas não sofisticadas. Então cobrar cenários e figurinos luxuosos e requintados não convém com o personagem.

Quem acertou foi o coreógrafo Renato Vieira. Os dois atores que interpretam Noel dançam como se fossem malandros, com aquele requebrado típico. Parecem estar com as suas ligas musculares bem alongadas. Se movimentam de forma ágil, emprestando leveza ao bamboleio. Gingam muito bem!
Completam o elenco as duas namoradas de Noel. Ele teve muitas mulheres. Queixinho não era bonito, mas sabia conquistar. No musical aparece Ceci, “a dama do cabaré”, interpretada por Dani Câmara, e Lindaura, esposa de Noel, interpretada por Julie Wein. As duas atrizes estão tão bem quanto os dois atores que interpretam Noel. Cantam e dançam de forma brilhante.
E, Matheus Pessanha completa o time de atores do musical.
Noel Rosa é, de fato, coisa nossa! Querem conhecer o seu legado musical? Assistam o musical! Recomendo.
Texto crítico de Alex Gonçalves Varela.