A peça é uma adaptação do livro História de um silêncio eloquente, de Thaís Dumêt.
A dramaturgia é assinada por Elisa Lucinda, Denise Stutz e Geovana Pires. Elas tiveram o mérito de levar aos palcos um texto sobre as mulheres privadas de liberdade, aquelas que foram encarceradas em manicômios, conventos e sistemas prisionais por serem sexualizadas, lésbicas, extrovertidas, inteligentes, terem repulsa sexual ao marido, praticarem a cartomancia, prostituição, entre outras tipificações.
O texto é crítico, denso, profundo, feminista, e defende de forma radical a liberdade em todos os aspectos da vida das mulheres. É um grito de basta à repressão feminina! Chega de autoritarismo! Fim da tutela!
O termo perigosas não quer dizer que as damas são pessoas más, perversas. Elas são perigosas porque elas podem e devem fazer uso da sua razão pública, de forma livre e soberana, têm o direito de pensar, e lutar pelo fim do patriarcado. Aí sim, elas se tornam perigosas porque têm o poder da crítica, e clamam pela liberdade de fazê-la, podem se organizar e lutar pelos seus direitos, inclusive se necessário for pegar em armas. Porque as lutas envolvem negociação, mas também conflitos.
E Geovana Pires está livre, leve e solta naquela ribalta. Ela domina o texto e o palco com segurança e firmeza. Se doa de corpo e alma. Ela interpreta e canta com maestria. E emociona, contagia a plateia, que lhe retorna com aplausos efusivos. Apresenta uma boa comunicação com o público, que lhe retorna de forma vibrante. Também apresenta uma boa movimentação, dando ao espetáculo um dinamismo próprio e contagiante.
A direção é de Denise Stutz, que deixou a atriz livre e a vontade no palco. Ela focou no texto, e na interpretação de Geovana.
Os figurinos e a cenografia são do talentoso Wanderley Gomes.
O figurino é bonito, de bom gosto, e expressa sensualidade. Geovana usa um vestidinho, com manga meia arrastão, e saia jeans manchado. Expressa sensualidade, típico das mulheres transgressoras, que desejavam exprimir seus desejos e seduzir os homens.
A cenografia é constituída por uma pequena mesa, cadeira, fotografias de mulheres penduradas no teto por fios com seus prontuários, e ao fundo, um mural de pano em grafite com os nomes das mulheres que integram o enredo da peça, como Maria Borboleto, Helena, Durvalina, Guiomar, Adelice, Domingas, Rosita, entre outras. No nome de uma delas aparece a imagem de uma algema, os grilhões que lhes tiravam a liberdade. Essas mulheres foram incriminadas, tipificadas, foram qualificadas de bandidas e criminosas. Foram parar no cárcere. Pois elas queriam ser livres, e explodir a sociedade machista, hetero normativa, e patriarcal.
A iluminação criada por Ana Luzia Molinari de Simoni apresenta um bonito desenho de luz, adequada, e busca realçar a atuação da atriz em suas diversas cenas.
As músicas no estilo do rap, com poemas de Elisa Lucinda e a musicalidade de Soraya Ravenle faz muito bem aos nossos ouvidos, apresentando uma boa sonoridade e melodias agradáveis. E Geovana canta bem!
Perigosas Damas é um espetáculo que apresenta uma dramaturgia potente, e clama pela liberdade; tem uma atriz com uma atuação notável; e figurinos e cenografia casados com o texto, adequados, de qualidade , e bom gosto. Excelente produção cênica!