A dramaturgia é da competente Renata Mizrahi, que também assina a direção ao lado de Priscila Vidca.
É comum ouvirmos afirmações como as que seguem: menino não pode dançar! Menina não pode jogar futebol! Menino não pode colecionar papel de carta, e menina não pode brincar de carrinho! Menino veste azul, e menina rosa!
A definição de regras rígidas que são estabelecidas para a educação infantil, separando assim aquilo que é voltado para a formação dos meninos daquilo que é reservado para as meninas, é o tema central da produção cênica em tela.
O espetáculo narra a história de Gabriel, interpretado por Paulo Verlings um menino de oito anos que gosta de dançar, ao mesmo tempo em que joga futebol e toca rock. Mas na escola onde estuda, não querem que ele faça aula de ballet só porque é menino. E, daí? Gabriel pratica o que ele quiser!
No dia em que Gabriel completa nove anos de idade, início da dramaturgia, é o momento em que o garoto expõe o medo de que ninguém apareça na sua festa devido aos inúmeros questionamentos feitos durante o ano na escola. Ele quer dançar, escrever poesia, cantar, chorar, porque ele vive a vida com o “canto dos olhos”, e quer fugir de tudo aquilo que é imposto à criança como sendo os ditos comportamentos baseados em estereótipos de gênero.
Gabriel quer fazer o que ele gosta, o que lhe agrada, o que lhe toca o coração. Ele deixa transparecer emoção, sentimento. Ele é um rapaz sensível.
O personagem é autentico. Quer fugir dos padrões convencionais da educação formal que dita regras autoritárias e não se adequa aos gostos pessoais de cada criança. Aí reside o mérito da dramaturga: ela critica os tabus considerados como universalmente válidos e inquestionáveis. Ela quer destrona-los.

Renata através do seu texto assim procede de forma jocosa e descontraída, questionando todos os ditames da educação tradicional, aquela que cria um fosso entre o que é para os meninos e para as meninas.
O espetáculo é um texto infanto-juvenil. Mas é adequado também para as mães e pais. Não é um texto “infantilóide”, pois nos leva a refletir sobre a educação infantil e as suas visões distorcidas.
O elenco é uma potencia. É alegre, alto-astral, para cima. Todos se destacam. Não há porque destacar um em detrimento do outro. Eles estão entrosados e sintonizados. Eles iniciam e terminam a apresentação inflamados. Alguns tocam instrumentos, ao mesmo tempo em que cantam, dançam e interpretam.
O cenário de Mina Quental é colorido, apresentando ilustrações que remetem a infância, bem como diversos cubos de variadas cores espalhados pelo palco.
Por sua vez, os figurinos de Flávio Souza são coloridos e adequados aos personagens do musical, remetendo ao universo infantil.
As músicas criadas por Renata Mizrahi e Marcelo Rezende são inéditas, e apresentam boas letras, estruturadas, adequadas a temática do espetáculo, com agradável melodia, poetizadas, e soam bem aos ouvidos.
Vamos aprender com Gabriel que criança faz e brinca com o que quiser e do jeito que quer!
Excelente produção cultural!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.