O espetáculo é uma remontagem e adaptação da coreografia de Marius Petipa pela dupla, cujo trabalho está cada vez mais consolidado e institucionalizado, Hélio Bejani e Jorge Texeira.
A música melodiosa e envolvente é de Adolphe Adam, Cesare Pugni, Leo Delibes e Riccardo Drigo, e o libreto de Vernoy de Saint-Georges e Joseph Mazilier, inspirado em um poema de Lord Byron.
O resultado é um espetáculo contagiante, com excelentes apresentações dos bailarinos.
A presença da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, regida por Jésus Figueiredo, é o ponto inicial a ser destacado. Balé é com música ao vivo. É mais emotivo, envolvente e pulsante.
O Corsário é um ballet de repertório clássico que conta a história de amor e aventura do pirata Conrad, que se apaixona pela Medora, a bela escrava do poderoso Paxá. A trama, cheia de reviravoltas, se desenrola em torno da luta de Conrad para salvar sua amada.

A história se passa no período no momento de transição do mundo medieval para o moderno, quando a Grécia estava sob o domínio do Império Otomano, que se iniciou a partir do século XIV, mesmo antes da captura de Constantinopla no ano de 1453, até o início da guerra de independência grega no ano de 1821 e se estendendo ao longo de toda a década, no contexto das revoluções liberais que sacudiram a Europa.
Na noite da estreia, Medora foi representada por Márcia Jacqueline.
Gulnara foi representada por Manuela Roçado; Conrad por Cícero Gomes;
Ali foi representado por Luiz Paulo; Lankendem foi representado por Rodrigo Hermesmeyer.
O elenco de bailarinos teve uma atuação de alta qualidade. Sintonizado e entrosado! Elenco em que a técnica está aliada à interpretação, deixando transparecer a emoção!
Marcia Jaqueline e Cícero Gomes são primeiros bailarinos do TMRJ, e oriundos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa do TMRJ. Daí toda a importância da Escola para a formação de novos talentos que proporcionam a renovação do corpo de baile do Theatro.

No ato 1 da cena 1 ocorreu a excelente apresentação do chamado Pas d’esclave, que envolveu Lankendem e Gulnara. O par esbanjou técnica e emoção em sua dança envolvente.
Por sua vez, no ato 1 da cena 2, um momento de rara beleza na gruta envolveu Conrad e Medora, numa dança que deixou transparecer, com emoção, o sentimento de amor do casal. Os dois demonstraram técnica, presença de palco, excelente interpretação e total sintonia.
No ato 2, cena 1, que se passa no Salão do Paxá, há momentos de extrema beleza.
Num primeiro momento, três mulheres odaliscas trazidas pelo mercador Lankendem entram para entreter o paxá e contagiam a todos, com um bailar gracioso e sublime.
A seguir, na dança do Jardim, é um momento sublime, delicado, gracioso, bonito, visualmente lindo, em que as bailarinas trajam figurinos em tom rosa e carregam arcos com flores. A coreografia é bem elaborada e de alta técnica. Enquanto isso, Sayed dorme e sonha com o seu harém transformado em jardim com belas flores. Rodolfo Saraiva representou o paxá, dando um ar interpretativo, jocoso, galanteador e sonhador ao personagem, orgulhoso do seu harém. Ele sempre quer mais uma!
No ato 2 da cena 2, que se passa na gruta, é o grand finale, realizado com chave de ouro. No nosso ponto de vista, o momento ápice da apresentação, vibrante, contagiante e empolgante. O público emocionado aplaude e vibra! Emoção pura! Uma catarse!
Conrad, Medora e Ali dançam celebrando o amor.
Conrad e Medora deixam novamente esbanjar sintonia, técnica, precisão dos movimentos, sensibilidade, excelente interpretação e exalam amor.

Mas é Ali, escravo e fiel aliado de Conrad, representado por Luiz Paulo, quem rouba a cena da noite. Numa performance de tirar o chapéu, o bailarino levou o público ao delírio com saltos nas alturas, e esbanjando uma técnica e um vigor físico impressionante num corpo escultural. Aplausos merecidos!
Os figurinos produzidos por Tania Agra são bonitos, coloridos e criativos. Vemos trajes de piratas, odaliscas, paxá, as bailarinas do jardim, guardas, entre outros, dentro do contexto histórico do ballet, com um viés oriental e de um bom gosto tamanho.
Por sua vez, nos cenários, produzidos por Manoel dos Santos e executados por Pará Produções, vemos um mercado de escravos, a gruta onde se escondiam os corsários, e o Salão do Paxá, de arquitetura islâmica, e vitrais floridos. Trabalho cenográfico de excelente nível, com um colorido que contribui para o funcionamento dos figurinos.
A iluminação criada por Paulo Ornellas abrilhanta ainda mais o espetáculo, dando um realce a mais.
O Theatro Municipal apresentou mais uma de suas produções do ano de 2025, celebrando o amor de Conrad e Medora, por meio da mais antiga companhia de balé do país.
Excelente! Imperdível!