No âmbito do II Festival Oficina da Ópera realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (TMRJ) foi apresentada Le Villi, a primeira ópera de Puccini, composta no ano de 1884. O libreto é de Ferdinando Fontana, que usou com base uma lenda eslava das Villis, espíritos de mulheres que levam para a morte os maridos que as traem. A ópera é apresentada em dois atos.
Le Villi é uma ópera-ballet que narra a história de Ana, uma jovem que morre de coração esfacelado pelo fato de seu noivo Roberto ter partido para a Mogúncia para tomar posse da herança de um parente. Naquela localidade, ele a traiu com uma “sereia”. Ao retornar a pequena aldeia da Floresta Negra, Roberto se deparou com Ana transformada em uma Villi, um espírito maléfico. De forma vingativa, ela fez com que Roberto dançasse, numa noite de lua cheia, até a exaustão e viesse a morrer.
Anna, filha de Guglielmo, foi interpretada pela soprana Marianna Lima. Ela apresenta uma boa voz, forte, e afinada. Deixa transparecer emoção. Ela canta o amor. Ficou triste com a partida de Roberto. Angústia. Morreu da dor da traição. Ela deixou de ser amor e se tornou a vingança.
Roberto, um jovem e noivo de Ana, foi interpretado pelo tenor Ivan Jorgensen. Ele é um traidor. Se deixou seduzir pela “sereia” e com ela praticou orgias.
Se, no primeiro ato ele estava contido, no segundo ato, ele foi um dos grandes destaques, numa performance impecável, ao lamentar profundamente o equívoco, enlouquecido pela canalhice amorosa que realizou.
Guglielmo, o pai de Ana, foi interpretado pelo barítono Flávio Mello. Também com uma voz potente e correta, ele faz um pai que quer vingança. Não aceita a traição.
Claudia Motta, primeira bailarina do TMRJ, é a rainha das Villis. Apresenta uma performance de La Tregenda de se tirar o chapéu, com todo um gestual e movimentação de impressionar, junto com as outras fadas. A plateia aplaudiu e pediu BIS. E foi atendida! Comoção do público!
Por sinal, o casamento entre a ópera e o ballet foi um acerto!
O narrador é o ator Nicola Siri, que com o exemplar de um livro nas mãos, apresenta de forma clara e precisa toda a história.
A cenografia criada por Fael Di Roca é bonita, de bom gosto, e adequada as cenas.
No primeiro ato, observa-se uma cena rural, em que o palco está todo ocupado por um capinzal. E ao fundo uma imensa aquarela retratando as paisagens das montanhas da região.
No segundo ato, a cenografia ganha um caráter mais fúnebre. É a floresta, lugar da penumbra, com árvores, espaço das Villis.
Os figurinos criados por Renan Garcia são bonitos, e de extremo bom gosto. Ganham destaque os do conjunto de camponeses; das Villis; e do espíritos.
A iluminação criada por Isabella Castro e Jonas Soares apresenta uma adequação perfeita ao enredo.
No primeiro ato apresenta claridade, momento de celebração do casamento no povoado. E, num segundo momento, escura, a floresta, momento fúnebre, a morte e a dor.
A concepção, direção cênica e coreografia é de Bruno Fernandes e Mateus Dutra. Apresentou notável qualidade, com marcações precisas, técnica e emoção caminhando juntas, e uma bela coreografia na dança das Villis, que, como já afirmamos, ganhou aplausos merecidos.
O Coro e Orquestra Sinfônica do TMRJ estão sob a regência de Felipe Prazeres que comandou com firmeza e segurança, mantendo o excelente nível musical do espetáculo.
A ópera finaliza com um arremate de toda a encenação. No primeiro ato, na festa do casamento, Roberto oferece à Ana como presente das bodas um cervo morto, produto de suas caçadas. E, ao final do espetáculo, Ana transformada em Villi se apresenta com a cabeça do servo com seus chifres. O cervo foi morto como produto de uma caçada, e Roberto perdeu a vida pela sua traição, resultado de uma vingança. As demais Villis também usaram máscaras de cervo.
Le Villi é uma ópera-ballet com um elenco primoroso com vozes robustas; bonitos cenários e figurinos; e a regência por conta de um maestro potente que rege com rigor e segurança.
Excelente produção de ópera!