O texto apresenta uma profunda reflexão sobre a condição humana, em seu momento máximo de decadência, dentro de um buraco, expondo as fraquezas do ser humano, solitário, no vazio, abandonado.
Patrícia Selonk interpreta Winnie, e confirma a consolidação da carreira da atriz como uma das mais respeitadas do nosso país. Já assistimos Patrícia em outras montagens anteriores, e a cada nova ela se supera, se ressignifica, dá uma verdadeira aula de interpretação e emoção. O público sai inebriado com o feitiço dionisíaco por ela lançado. Mas ela é uma feiticeira do bem, pois espalha o elixir da emoção, do sentimento, toca o coração, ainda que num momento de potencialização da decadência humana, enterrada num buraco coberto de terra por todos os lados. Apenas com o gestual das mãos e da cabeça, associado com a palavra falada, e, num segundo momento, enterrada até o pescoço, ela consegue transmitir o texto com clareza, segurança e desenvoltura. Ela está praticamente sozinha na ribalta. Portanto, Patrícia tem uma atuação notável.
Patrícia faz essa Winnie frustrada e sozinha, que às vezes parece querer ficar triste, mas que acredita que este “é um dia feliz, este terá sido mais um dia feliz. Afinal. Até agora.”
Presente em cena, temos também Willie, representado no dia em que assistimos por Isabel Pacheco, de forma adequada. Ele não fala nada em cena, e tenta subir rastejando o monte inclinado para levar um jornal para a esposa. Winnie até o chama, mas ele não responde. Ele e nada são a mesma coisa.
A direção de Paulo de Moraes valorizou o texto e deixou Patrícia Selonk à vontade para interpretar Winnie, enterrada em sua cova livremente, com seu gestual de braços e cabeça, e a palavra falada, e apegada à sua bolsa. Ela está ali deixando transparecer a fraqueza humana em sua potencialidade.

Os figurinos criados por Carol Lobato são adequados e de bom gosto.
A cenografia criada por Carla Berri e Paulo de Moraes é arrojada, clean, criativa e sofisticada. Apresenta um conjunto de pedras e sobre elas há um plano inclinado, dando uma ideia de uma montanha, sem vegetação alguma, uma paisagem árida. Dentro deste plano está enterrada a personagem Winnie, primeiro, até a cintura e, num segundo momento, até o pescoço. Próximo a Winnie há uma bolsa com vários pertences e um guarda-chuva, que num dado momento Winnie se utilizou para se proteger do sol escaldante, que fez sair fumaça de tão quente que ficou.
Ao fundo há um painel com um formato geométrico, onde, num primeiro momento, aparece a imagem do sol escaldante, da manhã, e, num segundo, a imagem de Winnie.
A iluminação de Maneco Quinderé é adequada, e contribui para realçar a interpretação das atrizes de seus personagens. Há momentos de luz intensa, e de penumbra.
Dias Felizes é uma excelente e Imperdível montagem da Companhia de Teatro Armazém; ganha destaque a notável atuação de Patrícia Selonk; e apresenta cenografia arrojada e criativa, e iluminação correta e adequada.
Excelente e Imperdível produção cênica!