Chico Vartulli – Você se considera um cidadão internacional?
Bayard Boiteux – Acredito que sim. Sou de uma família de origem suíça, que se estabeleceu em Santa Catarina e que se uniu por laços afetivos a outra italiana. Meu avô, da Marinha Marcante, veio para o Rio de Janeiro, onde seus 11 filhos se fixaram e se formaram. As inúmeras viagens do Almirante Lucas Alexandre Boiteux. Meu avô paterno fazia da casa da Tijuca, um local com inúmeras lembranças das viagens. Meu avô materno, de origem inglesa, vovô Nestor Leal, trouxe um pouco mais de mistura de sangue.
Papai, que sempre lutou pela Democracia e pelo Estado de Direito, acabou sendo preso em 1964 e condenado a 10 anos de encarceramento. Foi solto, após 5 anos, e tivemos que deixar o país com a ajuda da amiga Jacqueline Laurence-a, atriz que trabalhava na Embaixada da Argélia.
Ficamos 4 anos no país do Maghreb, que nos acolheu com muita fidalguia e permitiu que meu pai trabalhasse na Universidade de Argel e no Centro de Formação Profissional. Era um país muçulmano que nos fez conhecer de perto o Islamismo com seus aspectos culturais. Estudei no Lycée Descartes, um colégio francês, onde mais de 40 nacionalidades eram representadas.
Com a Revolução dos Cravos, fomos para Portugal, onde permanecemos 4 anos, após o período de 4 também na Argélia.
Voltei para o Brasil em 1979, para ingressar na Faculdade.
Chico Vartulli – Quais foram as suas primeiras experiências internacionais?
Bayard Boiteux – Enquanto morávamos na Argélia, fiz dois intercâmbios. O primeiro foi para Andover, na Inglaterra, onde fiquei 2 meses estudando inglês e morando na casa da família Mabey. Conheci o English breakfast, uma delícia, e os sanduíches que preparavam para o meu almoço. A principal refeição, após o breakfast era o jantar. Além das aulas diárias, tínhamos excursões e vivências culturais. Voltei para a Argélia falando fluentemente inglês.
Já falava um pouco de espanhol, que aprendi no Lycee Descartes, mas meus pais resolveram me enviar para Palma de Mallorca, para um curso de 6 semanas. Fiquei numa residência com outros estudantes estrangeiros com aulas vespertinas e café da manhã e jantar incluídos. No almoço, comíamos algo rápido.
Na Argélia, tive também minha primeira namorada, Yamina, francesa que acho que tinha nascido na Argélia. Passávamos as férias de verão na bonita casa dela, na cidade de Lignieres, no Berry. Seu pai nos levou para inúmeros passeios nas redondezas e pude também conhecer o dia a dia de uma família francesa.
Numa das viagens, fomos para Paris, para a bonita festa de l’Huma, quando conheci Laurence Dessau. Sua família se tornou muito amiga e durou muitos anos. Mesmo após voltar para o Brasil, me hospedei na casa deles, com minha ex-esposa Fatima, minha filha Ingrid e meus amigos na época Jorge, Mauricio e Ricardo.

Chico Vartulli – Como deu prosseguimento ao seu caráter de cidadão global?
Bayard Boiteux – Passei minha vida viajando e ainda o faço hoje, embora com menos frequência após a pandemia. São 200 países que já visitei. Devo confessar que foram viagens de fato e não rápidas permanências. Sempre tentei usar transporte público, viajar por empresas aéreas de bandeira e ter contato com a população local. Só assim conseguimos uma vivência real dos locais visitados. Busquei sempre entender as características de cada local para ter um comportamento de muito respeito. Conheço todos os continentes e tenho muitas lembranças, que relato no meu blog, nos meus livros de fotos e de viagens. Cada pedaço da viagem foi fortalecendo minha visão de solidariedade pelo mundo e luta pela redução das desigualdades.
Chico Vartulli – As suas viagens profissionais foram importantes?
Bayard Boiteux – Muito, muito mesmo. Ficar quase 2 meses em Cuba, ministrando cursos e conferências, me fez entender realidades que o turista normal não tem acesso. Lançar um livro na China, para quase 1500 pessoas, com coquetel local e cumprimentos de uma alegria única. Ministrar aula na Arábia Saudita só para mulheres, através de videoconferência, embora estivesse no local.
Participei de quase todas as feiras internacionais de turismo pela Riotur e pela KOntik FRanstur durante quase 15 anos. Eram mercados diferentes e, como falo 5 idiomas, havia uma facilidade para ser indicado.
Carreguei tanto material promocional, que minha coluna até hoje sente.
Fiz também mais de 80 palestras e workshops no exterior, além de ter sido recebido por presidentes das Repúblicas e até pelo Papa. Nunca fiquei divulgando fotos com tais personalidades. Conheci Kim il Sung na Coreia do Norte, com uma viagem com meu pai, mas não tenho nenhum registro, só a medalha que papai recebeu.
Fiquei muito feliz de ter conhecido Samora Machel, Agostinho Neto, Nelson Mandela, Lady Di e recentemente Macron, a rainha Silvia, entre outros.
Fortaleceram meu sentimento de viver e conversar com quem fez e faz a diferença.

Chico Vartulli – Há experiencias internacionais que lhe marcaram de forma decisiva?
Bayard Boiteux – Sim, três pelo cinco. Uma turbulência num vôo da Varig, indo para Abdijan, em que estávamos jantando e alguns foram projetados para o ar, pois estavam sem o cinto afivelado. A louça que quebrou toda e aterrizamos com feridos.
Fui a um casamento em Jaipur, de um colega de intercambio no exterior com quem até hoje tenho contato para 2000 pessoas. Todas as despesas foram pagas por ele e cada convidado tinha um mordomo e recebeu de presente uma joia.
A viagem numa suíte da Emirates, em primeira classe com spa dentro do avião, entre Kuala Lumpur e Dubai.
Uma noite num hostel em Amsterdã com quatro desconhecidos num quarto coletivo e roncos a noite inteira.
A visita de hotéis Legende da Cadeia Accor no Panama e Cartagena. Em Cartagena, a suíte presidencial Botero e e na Cidade do Panama, o bar secreto e a cerimonia de café queixa.
Fotos: Divulgação/Arquivo pessoal
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