Em cartaz no Teatro Laura Alvim, em Ipanema, o ator Ricardo Beltrão celebra o retorno do espetáculo “NÓS”, escrito pelo britânico David Persiva com tradução de Diego Teza, que conquistou o público carioca com uma combinação equilibrada de humor e drama. A reflexão “Onde começa o amor? E onde ele termina?” chamou atenção e fez muita gente se identificar. A peça acompanha as fases de um relacionamento amoroso, da descoberta ao desgaste, revelando as sutilezas, contradições e espelhos que surgem quando dois indivíduos tentam coexistir. De volta à Casa de Cultura onde iniciou seus primeiros estudos teatrais, Ricardo vive este reencontro como um ciclo que se fecha com emoção e amadurecimento.
A nova e curtíssima temporada de dois finais de semana chega impulsionada pela recepção calorosa da primeira temporada no Futuros – Arte e Tecnologia, que teve sessões lotadas e público fiel. Para Beltrão, essa resposta afetiva foi o combustível essencial para remontar o espetáculo em tempo recorde, agora num espaço maior e com novos desafios. Sua dedicação à construção minuciosa da personagem — organizada, pragmática, mas cheia de vulnerabilidades sutis — é um reflexo do compromisso com a verdade emocional que move o projeto.
Entre um mapa astral criado para seu personagem e as reflexões sobre o impacto das redes sociais nos relacionamentos contemporâneos, Ricardo Beltrão reflete sobre o equilíbrio entre intimidade e exposição, rotina e desejo, silêncio e diálogo. Em suas palavras, “NÓS” propõe mais do que um retrato de casal: é um convite à escuta genuína, à comunicação como prática diária e ao reconhecimento do outro como espelho e extensão de si. Um teatro que fala sobre amor, mas também — e sobretudo — sobre humanidade.
Acompanhe a entrevista do ator Ricardo Beltrão realizada pelo jornalista Rodolfo Abreu.
Rodolfo Abreu: “NÓS” volta em uma segunda temporada agora no Teatro Laura Alvim. Como está sua expectativa para esse retorno? O que mudou — em você e na peça — de lá pra cá?
Ricardo Beltrão: Eu estou animadíssimo e em êxtase com essa segunda temporada! Tenho um carinho mais que especial pela Casa de Cultura Laura Alvim, pois foi nela que eu iniciei os meus primeiros estudos no teatro e onde também fiz grandes amigos, inclusive meu parceiro de cena Andriu, e quando ainda estávamos lá surgiu a vontade de fazermos projetos juntos, até que chegamos em NÓS. Então levar esse espetáculo após a experiência que tivemos para esse lugar tão querido é uma grande emoção!
Rodolfo Abreu: A primeira temporada teve uma recepção muito calorosa do público no Futuros – Arte e Tecnologia, com sessões lotadas quase todos os dias. Como foi para vocês terem esse retorno do público e vocês sentem uma responsabilidade diferente ao fazer uma segunda temporada?
Ricardo Beltrão: Foi uma decisão importante em termos de estratégia e foi exatamente esse retorno afetuoso do público o principal combustível que nos deu a vontade e a coragem para realizar essa segunda temporada tão logo! Sabemos que é um grande desafio montar de novo o espetáculo em tão pouco tempo num local diferente da cidade e maior, mas estamos fazendo com a mesma alegria e confiança da estreia!
Rodolfo Abreu: A sua personagem em “NÓS” tem características muito marcantes: é o mais organizado, trabalha com estatística, planeja tudo na casa e na vida do casal. É muito o oposto da outra personagem. Você pessoalmente se identifica com esse perfil?
Ricardo Beltrão: Eu carrego bastante dos dois, mas sim, no dia a dia sou organizado, faço planos, gosto de ter alguma segurança, mais parecido com o meu personagem. Entretanto, me pego várias vezes caindo nas mesmas situações do outro, às vezes procrastinando decisões e me perdendo em ideias e pensamentos. Acho que faz parte do nosso lado humano ter características comuns com os dois. Por isso talvez o público também tenha se identificado tanto com eles e sentem muitas vezes que seus relacionamentos estão espelhados ali na peça.

Rodolfo Abreu: Continuando a abordar caraterísticas de sua personagem, ela também é engajada em causas sociais e ambientais, além de utilizar as redes sociais intensamente para promover essas ideias – o que acaba virando um ponto de conflito do casal na peça. Como você vê as cobranças e o uso das redes sociais influenciando no relacionamento?
Ricardo Beltrão: Bem, como isso é uma novidade dos últimos tempos, acho que as pessoas ainda estão aprendendo a ponderar suas atitudes e a importância relacionadas a esse engajamento digital. Antes as relações sociais eram presenciais e intensas, menos instantâneas. Hoje em dia nos relacionamos com pessoas a quem muitas vezes nunca fomos de fato apresentados pessoalmente, e isso pode influenciar os relacionamentos de cada um, amorosos ou não. É bem louco, mas acho que estamos caminhando para usar essas ferramentas de forma mais saudável e útil. Assim espero.
Rodolfo Abreu: Fale um pouco sobre o processo criativo de “NÓS”. Como você construiu sua personagem dentro dessa narrativa de casal?
Ricardo Beltrão: Foi tudo feito com base nas características que o próprio texto nos deu através dos diálogos e também das situações vividas por ele e que vão sendo contadas ao longo da história. E depois fui adicionando coisas que imaginei para ele, como até um mapa astral, por exemplo (rs). E assim fui construindo e vivenciando um cara seguro, determinado, prático, pragmático, com um humor peculiar, mas que também carrega questões sentimentais silenciosas, muitas vezes mascaradas numa posição sustentada de força e impavidez.
Rodolfo Abreu: A peça tem um excelente equilíbrio entre o humor e drama, que faz o público acompanhar os dois momentos da vida do casal e se identificar. Como é para você como ator fazer as transições de momentos tão antagônicos – como o encantamento ao conhecer uma pessoa; e os momentos de crise do casal?
Ricardo Beltrão: Nós trabalhamos separadamente os momentos diferentes do casal, como as emoções da atração e do afeto que surgiram no momento do primeiro encontro e depois a angústia e cansaço da fase da convivência já um tanto desgastada. Durante o processo criativo nós seguimos uma ordem cronológica de forma a sedimentar bem esses sentimentos em cada cena. Assim não foi tão difícil transmutar esses estados durante as mudanças do tempo ao longo da peça. Foi um processo bem enriquecedor neste sentido.
Rodolfo Abreu: Você sente que “NÓS” dialoga com temas urgentes do nosso tempo? O que você espera que o espectador leve com ele ao sair da sala do teatro?
Ricardo Beltrão: Com certeza, sinto que o principal elemento que as pessoas devem buscar nas suas relações é uma comunicação honesta e aberta, sempre conscientes de que todo relacionamento é uma oportunidade de troca e crescimento espiritual de um indivíduo com o outro. A boa comunicação deve ser usada como uma prática diária importante, não só quando se tem alguma questão séria a ser discutida, mas também nas conversas do dia a dia, por mais corriqueiras que sejam, devemos nos manter atentos para oferecer escuta legítima ao outro e reagir com sinceridade e responsabilidade.
Rodolfo Abreu: E olhando para frente: depois de “NÓS”, quais são os próximos passos que você gostaria de explorar – seja no teatro ou em outros campos artísticos? Alguma coisa que já esteja em mente?Ricardo Beltrão: Sim, existem projetos para cinema e pretendo também investir no meu perfil profissional para buscar oportunidades de trabalhos na TV. No teatro, ainda temos muitos planos para “NÓS” no futuro, mas a mente inquieta de ator/produtor está sempre atenta a textos e possíveis projetos. Vamos ver!

Acompanhe o ator Ricardo Beltrão no Instagram: @ricardobeltrao
E siga a página do espetáculo “NÓS”: @nos.peca
Entrevista por: Rodolfo Abreu (@rodolfoabreu)




