Em meados dos anos 20, o estilo musical criado pelos escravos já estava mais que consolidado como a música pop do momento e reinava absoluto no mainstream americano. Artistas com Louis Armstrong e Joe Oliver ditavam o ritmo e as tendências da época ao som eletrizante de suas renomadas orquestras . As coisas giravam e mudavam de forma vertiginosa, a euforia jovem pós-guerra pulsava clamando por mais novidades. Era uma nova era de empoderamento feminino, que vinha com força, rompendo paradigmas e quebrando mais e mais conceitos .
Entre essas mulheres empoderadas estava “a Imperatriz” Bessie Smith (Chattanooga, Tennessee, 15 de abril de 1894 – Clarksdale, Mississippi, 26 de setembro de 1937). De uma personalidade forte e autêntica , foi a grande cantora entre as décadas de 20 e 30,tendo sido a principal referência para as cantoras de jazz que viriam a seguir e que posteriormente também se tornariam referências . Suas música regadas a temas como liberdade sexual e rebeldia, eram hinos para a juventude da época.
Em 1929 , debutava no cinema, estrelando o curta metragem chamado “St. Louis Blues“, baseado na música de mesmo nome de W. C. Handy.
Com direção assinada por Dudley Murphy e rodado no bairro Astoria em Nova Iorque,
Bessie canta a música título acompanhada pela orquestra de Fletcher Henderson, Hall Johnson Choir, o pianista James P. Johnson, Dividia sua então concorrida agenda entre o teatro durante o inverno e as turnês pelo resto do ano , cujo as viagens , quase sempre eram feitas em seu próprio vagão de trem personalizado – um símbolo de sua posição e popularidade como artista. Smith se transformou na artista negra mais bem paga de sua época. Morreu num fatídico acidente de carro entre Memphis, Tennessee, e Clarksdale, Mississippi , Todo o cenário e acontecimentos em torno de sua morte gerou enorme polêmica e controvérsias (Porém isso já é assunto pra uma outra conversa).
DIZZY, BIRD E A EXPLOSÃO DO BEBOP
Ainda na primeira metade da década de 40, grupos de jovens intelectuais se reuniam nos bares da Rua 52, em Nova Iorque para beber, ouvir e tocar músicas. Naquele reduto, em meio aquela cena boêmia, começava a se desenvolver o estilo inovador que marcaria a transição entre o jazz tradicional e o modern jazz; mais especificamente entre o swing e o bebop. Imagine um jovem intelectual, rebelde, chamativo, impetuoso, politizado e chamativo. No mundo do jazz, esse rapaz representaria o bebop. Seu nome teve origem na onomatopeia criada ao imitar o som das centenas de martelos que batendo no metal na construção das ferrovias americanas, gerando uma “melodia” repleta de notas miúdas. Politicamente trouxe uma nova abordagem a temas como políticas raciais, como parte do movimento por direitos civis dos cidadãos afro-americanos .
O maior nome, e considerado o pai do estilo, Charlie “Bird” Parker (Kansas City, 29 de agosto de 1920 — Nova Iorque, 12 de março de 1955) está para o saxofone como Jimi Hendrix está para a guitarra. É considerado por muitos como o maior saxofonista de todos os tempos. O sucesso estrondoso veio ao lado do que é considerado seu grande e eterno parceiro, o trompetista Dizzy Gillespie (Cheraw, 21 de outubro de 1917 — Englewood, 6 de janeiro de 1993) – co-fundador do bebop e também considerado por muito como o maior de sempre em seu instrumento. Foram numerosas contribuições mútuas e preciosos registros, como por exemplo Bird and Diz (1952),
O bebop estava consolidado, e quando a mudança chegou para tomar conta dor espaço, os cantores e cantoras das big bands, partiram para a carreira solo. O jazz não era mais a música pop e virou música de nicho, que visava mais os críticos do que o próprio público em si, ao menos no início dessa nova fase. Os europeus – mais precisamente os franceses – ficaram hipnotizados com a sonoridade veloz, virtuosa e sofisticada que era marcante no estilo. Logo, Paris estava aos pés da dupla e se rendia ao bebop como símbolo agudo da modernidade na música. Charlie Parker Faleceu em 12 de março de 1955, vítima de um ataque cardíaco enquanto assistia a uma apresentação de jazz na televisão. Encontra-se sepultado no Cemitério Lincoln, Kansas City, Missouri nos Estados Unidos. Dizzy Gillespie seguiu em plena rotação criativa até sua morte por consequência de um cancro no início de 1993, sendo sepultado no Flushing Cemetery em Queens, Nova Iorque. Tem uma estrela com o seu nome na Calçada da Fama em Hollywood, número 7057 Hollywood Boulevard.
NOVOS CAMINHOS E UM NOVO PÚBLICO
Com o fim da guerra, milhões de jovens voltavam pra suas casas buscando reconstruir suas vidas . Eram enfim tempos de paz, um bom momento pra conseguirem um emprego, formar uma família e resgatar o tempo perdido nos campos de batalha.
Com a economia reaquecida devido ao grande influxo de pessoas, o entretenimento estava novamente em alta e a indústria fonográfica estava em um de seus melhores momentos. A venda de discos crescia rapidamente, chegando a 375 milhões de discos em 1947. Até então, a indústria havia voltado sua atenção para um público mais adulto. A ascensão de artistas como Frank Sinatra e seus contemporâneos revelava um mercado ainda não explorado; o público jovem/adolescente .
O ótimo momento na economia proporcionava aos jovens condições para adquirirem meios de cultura e entretenimento. Como surgimento da televisão e com o sucesso da era de ouro do rádio, a indústria da música se consolidava e os artistas expandiam seus horizontes. Pelas ondas do rádio e da tv, que conectavam a nação, vários novos artistas e estilos eram apresentados ao povo.
Artistas como Little Richard e Chuck Berry desenvolveram um jeito próprio de tocar guitarra. O modo acelerado e a extravagância nas performances, trouxeram uma nova experiência ao blues. Nascia o rock and roll, que assim como sua fonte de inspiração, germinaria, dando origem à diversos novos gêneros e subgêneros.
Do reggae ao funky, do soul ao r&b, passando pelo rap e outras vertentes da música pop, até os dias atuais; todos de certa forma beberam da fonte do rock e consequentemente mantiveram ativo o dna blue note e a essência criativa dos escravos nativos que com seu suor e suas lágrimas, escreveram a história da ascensão da música negra americana .
Texto e pesquisa: Salvador Razogh