Estive mais uma vez no boêmio bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, mais precisamente no charmoso Bar dos Descasados, localizado nas dependências do Hotel Santa Teresa.
Fui presenciar o encontro entre três grandes nomes da música brasileira, e inicio parabenizando o “Pelé da gaita” Maurício Einhorn, que acaba de completar 91 anos de idade no último dia 29, e segue soprando com maestria o instrumento que começou a tocar aos 5 anos de idade.
Ao lado de Einhorn, estava o guitarrista, compositor e produtor musical argentino Torcuato Mariano, gênio da guitarra e seus efeitos e um dos produtores musicais do programa The voice Brasil. Completando a “trinca de ases” estava o herdeiro oriundo da linhagem mais nobre do contrabaixo brasileiro, Zé Luiz Maia (com quem tive o prazer de conversar e saber mais da sua história e carreira após o show – a entrevista exclusiva vai ao ar na próxima semana).
O show:
Hora do fino da bossa
Maurício Einhorn escreveu o set setlist a próprio punho, e distribuiu cópias aos companheiros. Muito cuidadoso, fazia questão de dizer o nome dos autores de cada uma das músicas tocadas. E assim começou, anunciando a música “Desafinado”, de Tom Jobin e Newton Mendonça. Foi lindo ver como as melodias da gaita cromática de Mairício Einhorn se acalantavam na harmonia da guitarra semi acústica de Torcuato Mariano e das linhas graves do baixo fender precision de Zé Luiz Maia.
Seguiram com o fino da bossa tocando “São Conrado”, de C.A. Pingarilho e Maurício Einhonr. Jazz rolando e os solos da guitarra de Torcuato começaram a surgir. E como nenhuma estrela brilha sozinha, todos destilaram técnica e muito feeling intercalando solos e bases com harmonias tão lindas que nos fazem entender o porquê da bossa nova ser tão apaixonante, tão perfeitamente equilibrada, executada com cuidado por um trio pesadíssimo, num bairro clássico em uma noite linda.
Um momento do show que me chamou a atenção foi ao anunciare a música “Here, there and everywere“, de Lennon e McCartney. Einhorn fez questão de deixar clara sua admiração pelo saudoso Beatle. A executaram com perfeição, arrancou aplausos dos sortudos presentes, à vontade como numa área VIP, e então, após a música, Einhorn voltou a elogiar John Lennon e sua bela composição. Vieram “Corcovado’ (quite night, quite stars) de A.C. Jobin / Gene Lees e “As rosas não falam“, de Cartola para fechar o primeiro set do show.
Esteja no lugar certo, na hora certa.
Durante o breve intervalo, pensava como nós cariocas temos o privilégio dessas apresentações com músicos renomados de um quilate absurdo, tocando em lugares com ingresso a preço popular, onde inclusive é possível acessar e conversar com os ídolos após o show. Já pensou em tomar um café com Torcuato Mariano, Maurício Einhorn e Zé Luiz Maia e falar por dois minutos? Pois é, eles estava alí, no balcão do bar, conversando e bebendo café. E onde você estava? Estar no lugar certo e na hora certa nos faz viver grandes momentos.
O Trio voltou para a parte final do show com “Bluesette” de Toots Thieleman e Norman Gimbel, e até os barmans e garçons do bar se olhavavam boquiabertos a cada solo, fosse de gaita, guitarra ou baixo, e aplaudiram com o público a cada música. Os casais se abraçavam num clima de romance, o amor estava no ar. A bossa nova tem desses encantos.
Um pouco mais de jazz, homenagens, e chegamos ao fim do show com “Isn’t she lovelly?” de Steve Wonder, e na sequência a homenagem final foi ao mestre Pixinguinha e a João de Barro, com a música “Carinhoso“.
Após o show, Maurício Einhorn, Torcuato Mariano e Zé Luiz Maia conversaram com os presentes, e informaram que repetirão o show no mesmo Bar dos Descasados, em Santa Teresa, no dia 17 de Junho, as 20h. Anota na agenda. Eu recomendo muito.
*Em tempo, estimo as melhoras do baterista Roberto Rutigliano, que se recupera de um acidente e não pôde se apresentar com o trio. Boa recuperação. Volte logo.