Gostaria de começar contextualizando para entendermos o peso do sobrenome Maia na música brasileira.
Ze Luiz Maia é o filho mais velho de um dos maiores contrabaixistas da música mundial. Seu pai, Luizão Maia, revolucionou tanto a função do contrabaixo na música que podemos dividir a história da música brasileira em “antes e depois” de Luizão. Foi “o pai” do contrabaixo elétrico no samba, criando um jeito único de tocar, caracterizando-se pela criação de linhas de baixo próximas da percussão, com enorme riqueza rítmica.
Luizão tocou na Banda Fórmula 7 entre 1965 e 1968, formada por músicos de jazz. Depois integrou a banda de um dos programas do Roberto Carlos, e em 74 começou a acompanhar Elis Regina, com quem tocou por 13 anos. Desde então passou a ser requisitado para gravar e tocar com grandes nomes da música brasileira, como Djavan, Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, e também com nomes internacionais do jazz fusion, como Lee Ritenour, George Benson e Toots Thielemans.
Voltando a entrevista:
- Budah: Quando você nasceu, em 1971, seu pai já tocava com a Elis. Como foi formada sua cultura musical?
Zé Luiz Maia: A influência vinha basicamente do que meu pai ouvia. Ele ouvia e tocava muito jazz desde os 15 anos. Ele ouvia muito Al Jarreau e ritmos latinos também. Eu cresci ouvindo jazz e música brasileira. Ouvi muito a obra dele também.
- Budah: Qual foi a influência do Luizão na sua escolha pelo contrabaixo?
Zé Luiz Maia: Na verdade eu tocava piano até os 12 anos, então meu pai se mudou de casa e precisou levar o piano. Deixou um contrabaixo pra que eu não ficasse sem instrumento e desde então sou contrabaixista.
- Budah: Você tem o DNA do contrabaixo brasileiro. Seu pai mudou a forma de tocar o contrabaixo no samba. Você também é primo do Arthur Maia, teve um irmão também contrabaixista, o Lupa Maia… é muito estudo ou esse groove tá no sangue dos Maia?
Zé Luiz Maia: Luizão era de uma família musical, os irmãos mais velhos tocavam, ele estudava muito. Lembro dele estudando bastante. O Arthur também era um virtuoso, ele se trancava por horas estudando. Ele tocava bateria até que o Luizão lhe deu um contrabaixo e… O Lupa já tocava muito de feeling mesmo, tocava bem. Eu também estudo bastante, tem muito de feeling pra tocar, mas pra evoluir tem que estudar muito e sempre.
- Budah: E como é pra você tocar ao lado de músicos que acompanharam seu pai?
Zé Luiz Maia: O Maurício Einhorn, por exemplo, me conheceu quando eu tinha 8 anos. É bom ouvir as histórias, sempre com muito respeito pelo Luizão. Ele era muito querido. Mas no palco é só música. É uma honra na verdade tocar com eles.
- Budah: Como começou sua carreira como contrabaixista?
Zé Luiz Maia: Meu primeiro trabalho foi numa banda de baile de fado, eu tinha uns 15 anos. Aos 17 eu já tocava na noite, em bares de Ipanema. Foi quando participei da minha 1a gravação, com o Marquinhos Satã; depois disso eu toquei com ele , Carlinhos 7 cordas e Dirceu Leite.
Aos 19 anos, gravei com Lula Ribeiro, e já tocava com Martinho da Vila, Beth Carvalho, Cleiton e Cledir… acompanhei o Luiz Melodia por 7 anos, também acompanhei a Bibi Ferreira…
- Budah: Como foi participar do Festival Movimenta, com Hamilton de Holanda?
Zé Luiz Maia: Eu estava tocando bastante com o Márcio Bahia (baterista) quando o Hamilton fez o convite. Ele toca muito, é um “fio desencapado”, foi um grande prazer. Um show lindo, com a Dani Spielman, o guitarrista Pedro Franco, Mestre Macaco Branco e sua bateria…
- Budah: Quem são seus contrabaixistas favoritos?
Zé Luiz Maia: dos que já partiram. Mas continuam vivos pq deixaram suas obras registradas são com certeza o Luizão e Arthur. Os presentes eu gosto demais do Jorge Hélder, do Wilson Prateado, André Vasconcelos, Guto Wirti e muitos outros. Lá fora eu curto o Briam Broomberg, Christian McBride, Ron Carter…
- Budah: Você produziu um álbum do Wilson das Neves, como foi o processo?
Zé Luiz Maia: Eu fazia shows com ele e sabia que ele tinha várias composições não gravadas. Eu o convenci a gravar o álbum quando disse que meu pai havia esperado a vida toda pra gravar um álbum autoral e acabou não gravando. Então o Wilson topou e indicou algumas pessoas com quem ele gostaria de gravar. Eu fiz os contatos, reuni os músicos e formei a banda, escolhemos o repertório e dividimos os arranjos, organizei toda a logística e detalhes de estúdio e fizemos. Foi rápido, tudo em umas cem horas de estúdio. Cada um já sabia o que tinha que fazer.
- Budah: E ganharam o prêmio de melhor disco de samba do ano. Vocês esperavam isso?
Zé Luiz Maia: Naquele ano tinha a Dona Ivone Lara e o Zeca Pagodinho concorrendo com seus álbuns, não esperávamos. Foi uma grata surpresa na verdade. Ficamos muito felizes.
- Budah: E quais são os próximos projetos?
Zé Luiz Maia: meus próximos projetos são levar adiante o legado da família, Luizão e Arthur partiram com 56 anos e me deixaram o bastão na mão. Creio que seja uma responsa enorme, mas a gente vai tocando o barco e sempre vem os amigos apaixonados pela causa pra dar uma força.